sexta-feira, 24 de agosto de 2012

EU VOTO!



EU VOTO

Gilson Renato

Tenho observado a movimentação de grupos diversos em defesa do voto nulo. Os argumentos, de uma forma geral, desqualificam o modelo de democracia adotado no Brasil e, principalmente, a obrigatoriedade do voto. Os que pregam a anulação do voto alegam (entre muitos e bons argumentos) que  “não querem se responsabilizar por mandatos pífios de pessoas inescrupulosas que não respeitam a vontade de quem os elegeu”, têm razão nos argumentos.

 O que não consigo entender é a importância e o poder transformador do voto nulo, ou mesmo do voto em branco ou do não voto. Até para estimular o debate, pergunto: pra que serve o “não votar”? De que forma, considerando as nossas características institucionais, quem não votou é menos responsável pela incompetência de determinado eleito do que quem votou? Acredito que, desta forma, há um equívoco na resolução desta equação.

O jogo da democracia, ao contrário da ditadura ou qualquer outro regime totalitário, fomenta o fórum, o debate, o confronto das idéias e interesses de diferentes, na busca de consensos que permitam, para a comunidade em qualquer esfera, progredir, tocar um movimento positivo de acordo com o pensamento da maioria.

Em qualquer regime absolutista, as coisas são mais simples, as soluções são mais objetivas: abraço quem me ama; aniquilo quem quer diferente. Na estrutura democrática, essa coisa em que somos todos aprendizes, é fundamental a consideração das partes, a busca da sinergia, a construção de um corpo que, mesmo disforme, em determinado espaço e tempo, queira tomar um caminho comum. Quando isto acontece, mesmo com perdas, a conquista é legítima e definitiva.

A democracia é e será, ainda por muito tempo, um campo de desconforto, porque dialético. É, fundamentalmente, o caldeirão das vontades e assim sendo é também o ocaso do voluntarismo. A democracia é também, essencialmente, um processo endógeno; é preciso estar dentro para transformar. Os olhares estrangeiros enxergam, no máximo, uma fosca silhueta.

Publicado no jornal A União, em 28/07/2012.

Imagem Google



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