sábado, 30 de novembro de 2013

PORQUE HOJE É SÁBADO...

O ENXOVAL DE DORINHA

Edson Ubaldo*

Tempos brabos aqueles, de preconceito, intolerância e hipocrisia. De um lado, os coronéis devassos impondo condutas puritanas a seus dependentes, como forma de dominação. De outro lado, os frades italianos e alemães, que a cada seis meses apareciam para dizer missa, batizar e ameaçar com o fogo do inferno os camponeses crédulos e analfabetos. Nenhum deslize era perdoado no âmbito daquela rígida moral. Mulher adúltera o marido obrigava-se a matar. Filha solteira deflorada tinha de suicidar-se ou ir para a zona de meretrício, caso o cúmplice não reparasse o mal pelo casamento. Dorinha optou por esta última alternativa. Pegou carona num caminhão de serraria e desembarcou na entrada sul de Lages, com sua trouxinha de poucos teres.

Do Cemitério Cruz das Almas até a Curva da Morte, quase todas as casas eram bordéis. Havia para todos os gostos e orçamentos. Do mais humilde peão ao mais abastado fazendeiro, todos saíam bem servidos e faceiros. Nos salões mais finos e nos desvãos das chinas mais bonitas, muitos pinhais, fazendas e tropas de boi foram enterrados. Insegura, aflita, morta de medo, Dorinha iniciou sua caminhada para o desconhecido. Com seus cento e trinta quilos refestelados sobre uma cadeira de balanço, Nega Tonha tomava mate com suas “meninas” no varandão. Ao ver aquela caboclinha agarrada à trouxa, com olhar de ovelhinha medrosa, o olho clínico da veneranda cabaretière não se enganou.

— Vem cá, minha filha, conte pra nós o que te aconteceu.

Dorinha hesitou diante das desconhecidas, mas Nega Tonha, com sorriso maternal e contagiante simpatia, infundiu-lhe confiança. Entrou, tomou chimarrão, ganhou café com bolo frito e contou seu drama aos prantos. O filho do fazendeiro para o qual seu pai trabalhava tinha-lhe arrebentado as tramelas algumas semanas antes. Ela não queria dar, mas ele era bonito e prometeu-lhe casamento.

Fiada na promessa do moço, contou o sucedido à mãe, que contou ao pai, que foi falar com o patrão. Este mandou o filho pra cidade e passou uma descompostura no agregado. Que cuidasse melhor de suas filhas, ou será que achava pouco aquela galinhazinha sem-vergonha haver seduzido o piá? Ponha-se no seu lugar, homem! Morto de vergonha, o pobre agregado voltou para casa e aos gritos de “cadela”, “puta rampeira”, “vagabunda”, baixou a soiteira nas costas morenas de Dorinha, até fazer sangue. Por isso ela fugira, e ali estava necessitada de socorro e proteção. Nega Tonha já ouvira essa história dezenas de vezes ao longo de sua bem sucedida carreira. Sabia como lidar com essas situações. Primeiro fez a menina acalmar-se e tomar confiança. Depois explicou-lhe as vantagens e inconveniências da profissão. Apesar de seus dezessete anos e dos poucos meses de escola, que mal lhe permitiam assinar o nome, Dorinha mostrava interesse e capacidade de absorver as lições. Humilhada pela violenta surra, não pretendia voltar para casa. Estava decidida a ser puta, e das boas. Um dia ainda haveria de vingar-se daquele safado que a enganara de maneira tão miserável. Nega Tonha mandou recado para seus fregueses mais importantes, como sempre fazia quando chegava mercadoria nova. Estabeleceu a ordem das visitas segundo a posição econômica, política e social da clientela. O preço seria alto, pois a menina ainda nem tinha cicatrizado as sobras dos tampos. Para Dorinha, detalhou que ela precisava de roupas boas, sapatos de salto, maquiagem, trens de cama e outros apetrechos próprios do ofício. Mas isso custava dinheiro e tinha de ser adquirido aos poucos, com o produto do trabalho.

Uma semana depois, Nega Tonha marcou a “inauguração” de Dorinha, a ser procedida por um velho e generoso freguês. Duas cubas libres, algumas apalpações e foram para o quarto. Muito acanhada e inexperiente, mas decidida a vencer na profissão, Dorinha fez seu primeiro michê. O velhote não incomodou muito, pois tinha ejaculação precoce. Logo caiu para o lado e perguntou:

— Minha filha, você tem aí um faxineiro pra enxugar as partes? Ao que Dorinha respondeu:

—O senhor me desculpe, mas faz pouco tempo qu’eu emputeci e ainda não tenho todo o enxoval de metelança.

* Desembargador aposentado, cadeira nº 12 da Academia Catarinense de Letras



domingo, 24 de novembro de 2013

PRESENTE DE DOMINGO...

ROSTO COM DOIS PERFIS

Lya Luft

Renuncio às palavras
e às explicações.
Ando pelos contornos,
onde todos os significados
são sutis, são mortais.

Não quero perder o momento
belo. Quero vivê-lo mais,
com a intensidade que exige a vida:
desgarramento e fulguração.

Então me corto ao meio e me solto
de mim:
a que se prende e a que voa,
a que vive e a que se inventa.
Duplo coração:
a que se contempla e a que nunca
se entende,
a que viaja sem saber se chega

– mas não desiste jamais.


domingo, 17 de novembro de 2013

SOU PT DE CORAÇÃO!


PRESENTE DE DOMINGO...

Eduardo Alves da Costa
NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI

Eduardo Alves da Costa

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!



sábado, 16 de novembro de 2013

PORQUE HOJE É SÁBADO...


Os pregões que me lembro do Recife "matuto".

Paulo Lisker, de Israel

Sobre o famoso "cachorro quente" (não este da salsicha, porem aquele que é característico do Recife), vale à pena abrir um parêntesis.
Devemos deixar as coisas em "pratos limpos" apesar deste produto nunca ter visto um prato na vida, ainda mais prato limpo.
Ele era saboreado com as mãos, uma delas segurava o "cachorro" e a outra servia de babador para evitar manchar a camisa com o molho vermelho gostoso pra chuchu que escorria do pãozinho com o recheio da mistura que compunha este alimento de rua.

“O VENDEDOR DO CACHORRO QUENTE”

Antes de tudo seria de bom proveito esclarecer que cachorro nenhum está envolvido nesta comida popular de rua.
De onde vem este nome sinceramente não sei, possivelmente algum "gozador" sarcástico numa brincadeira de mau gosto assim a batizou. O pior de tudo foi que o nome pegou em todos os países onde existe esta comidinha rápida nas ruas da cidade.
Este vendedor também passava na nossa rua em direção a algum lugar onde teria condições mais seguras para colocar sua carrocinha, o fogareiro a cesta com os pãezinhos, a panela com a clássica "gororoba" (uma comida com componentes não bem identificados), que exalava um cheiro excelente e sabor inigualável (ver ilustração "infantilizada" no cabeçario do texto).
"Chef" (cozinheiro mor) de restaurante nenhum, mesmo os de maior luxo e prestigio nunca conseguiram imitá-lo.
O aroma desta "gororoba" esquentando na panela (na realidade um caldeirãozinho mixuruca) era de endoidar a qualquer mortal.
De preferência instalava sua carrocinha numa praça ou diante de um colégio, estádio de futebol no dia do jogo ou nas grandes festas populares recifenses, pois ali encontrava- se a sua maior freguesia. 
Entre outros, me lembro do Americano Batista que ficava na Praça do Peixe Boi ou do Ginásio Pernambucano, na calçada oposta daquela junto ao Rio Capibaribe ou mesmo no Pátio da Santa Cruz onde moravam muitos clientes para seu "manjar celestial".
Dizem os "gozadores" (sarcásticos ou cínicos) que quando chegava o homem do "cachorro quente" no Pátio nos dias de festa, os sinos da igreja, dobravam anunciando o evento! Sei lá se é mesmo verdade ou outra gozação? Fábula urbana, será?
Era muito comum ver também o dito cujo defronte da Faculdade de Direito no Parque 13 de Maio.
As praças em geral eram preferidas para vender com calma o seu "inigualável cachorro quente".
Dizem que quando ele cozinhava a "Gororoba" para encher os pãezinhos, as aulas dos colégios ou das Faculdades eram interrompidas e o pessoal saía feito doido (loucos, na fala do povo) para comprar "cachorro quente" (este do Recife, não o clássico "hot dog" ianque com uma salsicha vienense enfiada no cu do pão, com mostarda, ketchup ou maionese para melhorar o gosto).
A "gororoba" cozinhada que ele colocava no meio do pãozinho, era na realidade um picadinho cozinhado com diversos tipos de carnes de segunda em geral de porco. Ademais estava presente o salsichão com muita banha, chouriço, condimentos diversos, muito colorau, cominho, pimenta do reino, toucinho cebolinha e pimentão verde bem picadinho, coentro e aquele "toque mágico" que dava a esta "gororoba" um gosto e cheiro único entre todas as comidas de rua.
Como não se lembrar desses 'fast food' ambulantes, posicionados estrategicamente nas entradas dos estádios de futebol do "Leão" da ilha do Retiro (Sport), do "Timbu Coroado" (Náutico) ou do Alçapão do Arruda, da "Cobra Coral" (Santa Cruz).
Quem não se lembra dessas barraquinhas vendendo "cachorro-quente" nas entradas dos clubes sociais nas festas de carnavais do Club Internacional, Clube Português ou na "Manhã de Sol do Sport, alem daquelas que estavam sempre lotadas de fregueses nas festas do Pátio de Santa Cruz, na Festa da Mocidade, no parque 13 de maio.
Agora imaginem um desarranjo intestinal ou coisa que o valha nestas grandes concentrações publicas.
Seria algo parecido a um "estouro da boiada".
Uma multidão aflita correndo para o mato para se livrar do "veneno gostoso" ingerido um par de horas atrás e cujo resultado sem dúvida nenhuma poderia entupir o Recife de merda que nem os dois rios juntos (Beberibe e Capibaribe) poderiam limpar a cidade da bosta acumulada.
No dia seguinte estaria nas manchetes dos jornais do Recife:
"Uma pequena catástrofe causada pela iguaria conhecida como "cachorro quente", fede em todo canto, desta vez favor não culpar o governo".
Imaginem se isso acontece mesmo. Fim da picada.
Falando a verdade aqui entre nós, acho que nunca comi cachorro quente. Parece mentira, porem na minha vida de menino no Recife só conhecia o cheiro desta iguaria.
Se comi foi escondido e com um medo "danado que me pelava".
Nessas condições não se pode saborear comida nenhuma.
Donde esta atitude emerge?
Aqui entra o aspecto gastronômico judaico da coisa.
O judaísmo na realidade é uma filosofia de vida depois de ser religião.
Todo e qualquer aspecto cósmico tem seu relacionamento com esta filosofia de vida e nada fica fora do seu alcance.
Então não teria também o que dizer sobre "cachorro quente"? Impossível!
Não foi à toa que Einstein fez seu "doutorado" na "teoria da relatividade. Assim é esta filosofia judaica, se relaciona com tudo e para ela, tudo é relativo. Pronto, "Relatividade".
Para os judeus daquela época no Recife, tudo estava em contra o "cachorro quente" como comida, com Einstein ou sem ele.
Começa pelo ingrediente a carne de porco, proibida pela religião judaica como comida humana.
Depois, a falta total de higiene na sua preparação, conservação dos produtos e dos restos que provavelmente seriam requentados no dia seguinte. A venda a céu aberto, a poeira e o pior ainda é com a fauna e flora de micróbios, bactéria e outros "bichos do mato" que naquela gororoba poderiam se desenvolver e causar problemas no aparelho digestivo e quem sabe até a morte por envenenamento. Vige, sai pra lá.
Então nestas condições não precisavam muito mais para que as nossas mães proibissem terminantemente de comer esta "porcaria" feita na rua.
Diziam em iídiche (linguagem que só eles entendem): "Got zol uphitn essen der drekisher cachore quente vuz goim machn in der gass mit shmutzike hent und ver veiss vuz zei guiben arain in top" (Deus nos livre de comer esta comida de merda, feita na rua e só o diabo sabe o que eles botam dentro daquela panela).
Triste, mas esta foi a realidade para nós a garotada judaica do Bairro da Boa Vista.
Seu Gláucio sabia desta proibição e quando passava com a sua carrocinha nas ruas de concentração de casas judaicas corria depressa feito um "foguete do ar" nas épocas de São João e ia se instalar na praça mais próxima. Quanto mais longe dos judeus, melhor!
Um dia disse ele a dona Santinha que fazia tapioca e milho assado no seu fogareiro a carvão na esquina da Travessa do Veras, que daria de graça a todo menino "galego judeu" (assim muitos cristãos, pejorativamente nos denominavam), que tivesse a coragem de comer um "cachorro quente", ali na praça na frente de todo mundo.
Parece que só dois meninos (Julio magro e Kerzman) tiveram a coragem de comer abertamente, deixando o resto da nossa "tropa" com água na boca, babando e morrendo de inveja e vontade.
O problema foi que a noticia chegou a casa deles, pois sempre tem um delator em qualquer grupo. Um menino (parece que foi Rubinho) contou a sua mãe o que se passou na praça e ela por sua vez logo transmitiu a noticia a quem lhe compete. Foi um reboliço na comunidade.
"Quem já viu uma coisa dessas, comer cachorro quente na rua, ainda mais na praça, todo mundo vendo, que vergonha e descuido com a saúde. Um mau exemplo". Comentavam cochichando as senhoras nossas mães e tias.
Aos dois garotos "rebeldes" foi aplicado o tal castigo que durante um mês não iriam ao cinema Politeama ver o seriado de Flash Gordon nas quintas feira.
Isto é um dilema pesado para um menino, "cachorro quente ou Flash Gordon". Vê lá hein, fogo na roupa.
Hoje seria necessário um psicoterapeuta para solucionar o problema, mas naquele tempo quem pensava assim? Ninguém!
O castigo era o melhor remédio para todos os males da juventude desgarrada.
Assim nós meninos judeus nos criamos no Recife.
Não digo que nossas mães estivessem erradas quando foram contra o "cachorro quente" como comida pra gente, talvez pudesse ser boa pra cachorros e olhe lá, diziam elas.
Desta forma nos privaram de um "fast food" que não sei se com este gosto e cheiro encontraríamos outra "comida de rua" igual pelo mundo afora.
Qual não foi a minha surpresa ao ler ultimamente relatórios de Secretaria da Saúde de São Paulo que provavam por A+B que esta comida estava em quase 90% dos casos investigados com índices fora das normas de tudo que é nocivo e proibido para a alimentação humana.
Vejam lá, as nossas mães meio século antes sabiam disto sem laboratórios sem instrução farmacêutica, sem mestrado ou doutorado, que aquela gororoba não era comida pra gente e não se deixavam levar como nós pelo cheiro que exalava aquele caldeirãozinho com uma comida de composição não muito bem identificada.
Para cachorros "vira lata" talvez, e isso por que naquele "tempo matuto", ainda não havia o "SOS ANIMAIS" ou semelhantes.
Isto posto, seria de bom proveito relatar em tempo útil, que apesar de tudo isto, não nos foi dado a conhecer de algum surto de envenenamentos ou caganeiras violentas que tenha levado a entupir os hospitais do Recife ou trabalho adicional aos coveiros do cemitério de Santo Amaro, ainda bem.
Porem nada disso convencia as nossas mães de abrir mão desta proibição e que de uma forma voluntária cumpríamos ao pé da letra.
Passaram-se anos até que nos libertamos desta proibição e deixamos de ser "bestas" e começamos a comer deste "manjar dos deuses" por nós cobiçado durante décadas.
Agora posso afirmar com categoria que ele era mesmo muito cheiroso e gostosissimo de se comer no lanche do dia.
E já que estamos falando nisso, quando acontecia que um colega ou outro reclamavam duma caganeira brava ou dor de barriga com vômitos, a gente brincava com o sofrimento deles e dizíamos: Comeste "cachorro quente", não foi? Queres um carro de aluguel (taxi, naquele tempo) para o Pronto Socorro, ou já chamamos de uma vez a ambulância com um padre para a última unção?
A resposta já não ouvíamos, pois o dito cujo saía "aloprado" (às pressas, as carreiras, sem ver ninguém pela frente) em busca de um cágador (vaso sanitário) no bar mas próximo ou atrás de uma moita no jardim.
Eu mesmo não posso testemunhar, mas amigos meus dizem que a "peidaria" se ouvia até Jaboatão. Os miúdos nos casebres corriam e se agarravam as saias da mamãe e diziam: "Mãe ta trubuando, já, já vai chuber mãe, escancaro as janeias?
A noite chegava e no Recife ela chegava cedo para o bem geral dos namorados e amantes do "cachorro quente" a estilo recifense.
P.S.
O "cachorro quente" também era conhecido como:
- "Gordo e quente",
- "Comeu morreu".




quarta-feira, 13 de novembro de 2013

VAMOS AJUDAR O CENTRO CULTURAL PIOLLIN?

GALPÃO ESCOLA PIOLLIN

O projeto Galpão Escola Piollin é parte da experiência sócio-educativa realizada pelo Centro Cultural Piollin, durante mais de três décadas, e que atendem em média 80 crianças, adolescentes e jovens de escolas públicas, nocontraturno ao do ensino formal.

O projeto trata especificamente da recuperação da estrutura física de um galpão, construído na década de 1980, na área mantida pelo Centro Cultural Piollin. Com o investimento na melhoria desse galpão, vai ser possível  instalar os equipamentos para prática das oficinas de circos e dobrar número de crianças e jovens atendidos,  resultando na estruturação definitiva de uma unidade voltada para a formação de educadores na área de circo, na cidade de João Pessoa.

Registrar que ações educativas de circo compõem o histórico do Centro Cultural Piollin e são integradas as oficinas de teatro, leitura e produção textual, cultura digital, permacultura.  Esse projeto educativo é articulado com ações  que garantem à acessibilidade a produção cultural e aos meios de expressão artística, como forma de contribuir para a formação integral de crianças, adolescentes e jovens.

A proposta visa à ampliação e requalificação do trabalho de educação que vem realizando a instituição o Piollin, por meio de atividades cênicas, especialmente do circo e do teatro, de modo a atender a necessidade de formação de educadores na área do circo, no Estado da Paraíba.

O projeto contribuirá para  manutenção de ações educativas em favor do público infanto-juvenil e ainda tem como meta atender aos profissionais de circo, teatro,  dança, professores de educação física com iniciação nas atividades circenses.

Veja informações de como ajudar aqui: http://benfeitoria.com/piollin


domingo, 10 de novembro de 2013

PRESENTE DE DOMINGO...

A LUCIDEZ PERIGOSA

Clarice Lispector

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade
- essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.


sábado, 9 de novembro de 2013

PORQUE HOJE É SÁBADO...

TORÓ

Antonio Prata

A descarga elétrica é um chicote de 27.700 graus -- quatro vezes a temperatura na superfície do sol. O ar em torno desloca-se causando o estrondo, que viaja por entre os prédios a 340 metros por segundo. O homem por trás dos óculos e do bigode volta os olhos para cima. A nuvem preta começa a seiscentos metros de suas pupilas e só termina catorze quilômetros depois, mas de onde ele está tudo o que vê é o céu tão preto que é como se a Terra tivesse sido engolida por um cachorro. As três moças de salto-alto e crachá dão uns gritinhos, excitadas com o próprio susto. O velho da banca guarda o display da mulher pelada. Os dois frentistas correm para estacionar os carros recém-lavados sob a parte coberta do posto. O vendedor de abacaxis recolhe as fatias dispostas sobre a barraquinha e as põe no isopor envolto por fita marrom. No ponto de ônibus coberto há uma discreta migração da periferia para o centro. Os estudantes de uniforme e i-pod passam correndo e gritando pela calçada – mas talvez corressem e gritassem do mesmo modo sem trovão ou com chuva de canivetes. O vira-lata solta o osso, fareja o ar espesso com pompa de especialista e sai trotando. O homem por trás dos óculos e do bigode atormenta-se com a lembrança de uma janela longe dali: fechou? Não fechou? Agora é tarde, pois a primeira gota cai sobre o teto do posto, a segunda em cima do ponto de ônibus, a terceira na testa de uma das moças, a quarta estatela-se no asfalto e a chuva começa como no pior pesadelo de Asterix: o céu desabando sobre nossas cabeças. As moças correm a toda velocidade que os saltos permitem. O homem por trás dos óculos e do bigode, convencido de que não fechou a janela, arrasta seu arrependimento para debaixo do ponto, onde umas quinze pessoas se acotovelam -- embalde, pois a água vem de tudo quanto é canto: de cima pra baixo, de baixo para cima, de um lado pro outro; jorra de dentro dos bueiros entupidos, desce em cachoeiras pelas calhas; sacos de lixo e garrafas pet competem no rafting do meio fio. Em cinco minutos não haverá mais ninguém sob o ponto. Em quinze, o vendedor de abacaxis, com água pelo joelho, abandonará o isopor. Em vinte, os frentistas desistirão da trincheira de panos e pneus, a água já entrando pelos escapamentos. Em vinte e nove minutos a chuva haverá terminado. As moças de crachá se secarão com os guardanapos de uma padaria e o vira-lata tremerá dentro de um fogão abandonado no terreno baldio. Em duas horas o homem ajeitará os óculos e torcerá a ponta do bigode ao contemplar sua sala. O toró será a principal notícia do Jornal Nacional, mas quem mora por aqui prescindirá das estatísticas, bastará olhar pela janela para se dar conta do estrago: é como se a cidade tivesse sido roída por um cachorro.



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

domingo, 3 de novembro de 2013

PRESENTE DE DOMINGO...

A CRUZ DA ESTRADA

Castro Alves

Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.

Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.

É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.

Não precisa de ti. O gaturamo
Geme, por ele, à tarde, no sertão.
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.

Dentre os braços da cruz, a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.

Quando, à noite, o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.


sábado, 2 de novembro de 2013

HOMENAGEM AOS MEUS PAIS...

Meus pais. As pessoas que mais amei na vida e ainda continuo amando.
Hoje, 02/11, faz 23 anos que ela se foi e no dia 21/12 fará 2 anos da partida dele...
A saudade que sinto deles é imensa... 
Há dias que não me conformo por tê-los perdido, embora saiba que é o curso natural da vida...