sábado, 18 de junho de 2011

PORQUE HOJE É SÁBADO...

O "barroco"

BARROCO EXPORT

Leonardo Dantas Silva

Transcorria o ano de 1979, quando eu, numa tarde de sábado, dirigi-me ao sítio dos Valença, na Madalena, a fim de conversar com João Valença (1890-1983), relembrando as suas peripécias do início do século, entre um e outro copo de cerveja, regado por um caruru gostoso que só a senhora do “Toinho Valença” sabe preparar.

“O Sabiá”, nome do bar do Toinho, contava, como sempre, com alguns frequentadores assíduos naquela tarde que ainda faturava os boêmios remanescentes da sexta.

Como João Valença se demorasse, aceitei o convite para participar de uma roda de engenheiros que, entre enormes gargalhadas, festejavam qualquer coisa por mais insignificante que fosse. Era tudo motivo para mais uma loura suada, que refrescava a goela e aliviava o espírito para enfrenta o Dia do Senhor.

Durante uma pausa, um engenheiro me interrogou:

 – Escuta, Leonardo, você “viu” o Andreazza?…

Descrente com as coisas que vêm do Planalto, perguntei a respeito de quê.

Dentro de sua convicção, o interlocutor falou sobre o recente pronunciamento do então ministro em transformar o Nordeste (mais uma para o nordestino deglutir) num porto livre.

Lembrei ao meu interlocutor que o atual Ministro do Interior, segundo os jornais, teria se referido à criação de um porto livre para exportação e esta não está sujeita a taxas e altos impostos, daí não entender a vantagem; quando todos nós sabemos que o maior produto de nossa pauta de exportação é gente…

O jovem estranhou, mas eu expliquei:

– Pois é, amigo, neste Nordeste sofrido o nosso produto principal é gente! Desde o alto dirigente de determinada empresa, ao artista hoje de renome, passando pelo técnico de eficiência invejável, até o pobre boia-fria. Todos são produtos do Nordeste que, por não encontrarem oportunidades nesta terra madrasta, cruzam as fronteiras em busca dos sonhos que são propiciados pelo Sul Maravilha.

Mas o jovem insistiu em seu ponto de vista:

– Ô cara, tu não entendeste. Não vês que nós temos muita coisa para exportar, bem ao agrado dos gringos dos Estados Unidos e até de muita gente da Europa…”

Por alguns instantes na roda de engenheiros só um falava, contando com a atenção dos demais.

E o engenheiro continuava o seu raciocínio:

“Por exemplo, nós temos tantos barrocos e porque não exportamos? Os gringos vão dar uma fortuna por todos eles…”

– Foi aí que eu preparei para replicar, aceitando o duelo em favor de nossas tradições, cada dia mais cobiçadas, porém tive que ensarilhar as armas diante da imediata e singular explicação:

“… esses barrocos fabricados em Caruaru, Goiana e Sirinhaém, encontrados no Mercado de São José e em qualquer feira do interior, os americanos estão oferecendo uma fortuna por eles”.

Diante de tal explicação, guardei o meu espadachim para outra liça, achando que o engenheiro tinha toda razão.

Para ele “barroco”, … era tudo que fosse fabricado com barro.


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