"Atiro a porta mãe?"
Vivia um menino pobre, com sua mãe, nas últimas casas de uma aldeia.
A mãe ia trabalhar, todos os dias, deixando o menino sozinho. Antes de sair recomendava-lhe:
- Não abras a porta a ninguém, nem mostres as nossas verónicas!
O menino respondia-lhe que fosse descansada, porque ele faria conforme ela lhe estava a recomendar.
Mas, certo dia, uns homens, que pareciam boas pessoas bateram à porta e perguntaram ao rapazinho se lá em casa haveria alguma coisa bonita que ele lhes pudesse mostrar.
O menino correu a buscar as verónicas, que a mãe guardava na cómoda do quarto. Os ladrões – porque era isso que eles eram – pegando no saco, imediatamente se foram embora.
Pouco depois, chegou a mãe. O menino estava triste e confessou-lhe o que se tinha passado. A pobre mulher, vendo-se sem o seu tesouro, lançou mãos à cabeça e começou a correr estrada abaixo, pelo caminho que os ladrões tinham seguido.
Entretanto, gritava para o menino que a queria acompanhar:
- Fecha a po…o…orta…!!!
- Levo a porta, mãe…e…e? – respondia-lhe o menino.
- Fecha a po…o…o…orta…!!!
- Levo a porta, mãe…e…e?
Sem entender o que a mãe lhe gritava, cada vez mais distante dele, levantou a porta e começou a correr, com ela às costas, ao encontro da sua mãe.
Já muito longe de casa, muito cansados e sem verem o caminho, porque, entretanto, o sol já se tinha posto, mãe e filho resolveram passar a noite em cima de uma azinheira, carregando, também, a porta.
A altas horas, sentem passos… conversas… por entre as árvores do montado. E, qual não foi o seu espanto quando, precisamente debaixo da árvore em que eles estavam, se vieram sentar, discutindo, dois homens carregados de sacos e outros objectos. Eram os ladrões, que se preparavam para dividir, entre si, o que tinham roubado.
Então começaram:
- Pataca a ti... pataca a mim…
- Pataca a ti... pataca a mim…
A mulherzinha e o filho, em cima da árvore, nem respiravam. A criança na sua imprudência, murmurava à mãe:
- Atiro a porta, mãe?
A mãe, com um gesto, tapava-lhe os lábios, gelada de medo. O menino continuava:
- Atiro a porta, mãe?
E atirou!
Os ladrões, pensando que era o céu que lhes caía em cima, puseram-se em fuga e não mais voltaram.
Foi assim que mãe e filho puderam recuperar não só as suas verónicas, como também, ganhar muitas outras riquezas que os ladrões abandonaram no chão, debaixo da azinheira.
Nota:" verónica" – moeda em oiro (segundo Filinto, VII, 228) in "Dicionário de Língua Portuguesa" de Cândido de Figueiredo.
Este conto popular deve ser muito antigo e pouco conhecido, porque só o ouvi contar a uma pessoa de muita idade. Pelas circunstâncias e pela palavra "verónica" denota ser muito antigo.
2 comentários:
Da minha amiga Luciana Pires, por email:
Entrou pela perna de pinto e saiu pela de pato..., lembrei de uma empregada que tivemos quando criança que contava dessas histórias que sempre terminavam felizes para sempre. Claro que a gente questionava tudo. Nessa aí, por exemplo, certamente teríamos horas de discussão! E a senhora, nossa empregada, sempre com muita paciência, tentava nos explicar coisas inexplicáveis..., rsrsrs.
Bons tempos.
Bjs
Lu
Lu,
Esse tempo de criança e essas histórias que nos contavam são inesquecíveis mesmo.
Beijos!
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