domingo, 15 de maio de 2011

LÁ VEM O ENTERRO VOLTANDO

José Nêumanne
Foi a expressão que me veio à mente, há pouco quando li no portal WSCOM as declarações do imortal paraibano Zé Nêumanne, por quem, aliás, tenho grande respeito e admiração, acerca da polêmica sobre o chamado forró de plástico no São João de Campina Grande.

A mim, pelo menos do ponto de vista conceitual, o assunto parecia estar sepultado quando, nosso amigo comum de facebook, Bráulio Tavares brilhantemente escreveu, semanas atrás em uma de suas colunas jornalísticas, o texto que reproduzo a seguir, com meus grifos:
 
FORRÓ DE PLÁSTICO (por Bráulio Tavares)

“O ayapaneco, língua falada no México há muitos séculos, está ameaçada de sumir.  Só restam dois índios que a falam com fluência.  Um tem 75 anos, o outro tem 69, mas os dois são “intrigados”. Não se falam há muito tempo, e com isso o ayapaneco está em vias de extinção.  Algo parecido está ocorrendo com o forró nordestino.  Já foi a música mais tocada no país, no tempo de “Asa Branca”. Agora, está sendo suplantada por outros tipos de música que espertamente lhe tomaram o nome, invadiram seu território, colonizaram seu público. Se os falantes do forró não começarem a conversar e a tomar providências juntos, essa idioma musical deixará de existir.  Ou melhor, haverá no Brasil inteiro uma coisa chamada “forró” atraindo dezenas de milhares de jovens para as festas.  Mas – nomes à parte – aquele tipo de música não existirá mais.

O forró está sendo esmagado pelo chamado “forró de plástico”, que é uma musiquinha alegre, sacudida, boa de dançar, com letras bobas ou ruins com-força. É uma variedade da lambada; recorre ao palavrão e a dançarinas seminuas, o que em princípio não é pecado, a não ser quando se torna (como é o caso) uma receita obrigatória e a principal atração.  É duro assistir um show de uma hora onde a melhor coisa do show são as pernas das dançarinas, e as frases que fazem vibrar a platéia são apenas as que dizem palavrões (em geral insultando parte da platéia).  Uma ou duas músicas assim...  Vá lá que seja.  O show inteiro?  Quem ouve isso, e gosta, merece o que está escutando.

Além disso, o forró de plástico recorre a práticas que corroem há tempos nosso mercado musical.  A primeira é o jabá (suborno de radialistas e de diretores de rádios), que tem dois tipos: o “jabá pra tocar minha música” e o “jabá pra não tocar de jeito nenhum a música de Fulano e Sicrano”.  Ganhar concessões de rádios e usá-las para divulgar as próprias músicas é uma versão legalizada desse processo, mas é legal somente porque os critérios para concessões de rádios e TV no Brasil são uma calamidade. A grande imprensa combate, como se fosse o fim do mundo, a cópia não-autorizada de CDs ou o download gratuito de músicas. Por que não fala nos critérios de concessão de rádios e TVs, que são uma catástrofe ainda pior para o país?

Forró pé-de-serra
O forró de plástico está criando a monocultura da produção de uma coisa única, repetida, uniforme.  Monocultura é o contrário de cultura.  Cultura é o reino da diversidade, das manifestações livres dos indivíduos e dos pequenos grupos.  A monocultura é uma imposição de-cima-para-baixo, feita por um grupo que fabrica e vende uma música igual até que o povo não suporte mais a música igual mas não saiba mais como fazer a música diferente, e com isso as duas morrerão juntas.  O forró de plástico destrói o forró e destruirá a si mesmo no futuro. Sua repetitividade e mau gosto esgotam em seu próprio público o prazer e o significado de ouvir música”.

Pronto. Para mim foi a pá de cal. Ninguém que eu li até agora falou com maior propriedade e isenção sobre o assunto. Frize-se que Bráulio é natural de Campina Grande, campinense da gema e, se a memória não me trai, torcedor do Treze.

Mas aí vem nosso amigo Walter Santos, com a sagacidade e o faro da noticia, peculiares dos jornalistas e, com a destreza de um legista, para exumar outra vez a polêmica e arranca do Acadêmico José Nêumanne, as declarações contundentes e as publica no wscom.com.br, ipsis litteris, aqui também os grifos são meus:

Neumanne chama Chico César de nazi-facista “ao querer impor estilo no forró”

Jornalista diz que é absurdo querer se indispor com São João de Campina

O jornalista e escritor José Neumanne Pinto, da Academia Paraibana de Letras, revelou em entrevista, depois da posse da nova acadêmica Pepita Mercedes Ribeiro, que considera o Secretário de Cultura do Estado, Chico César, um gestor com modelo nazi-facista ao querer impor estilos musicais durante os festejos juninos da Paraíba. “Além do mais ele é um artista medíocre no forró e no frevo, onde lançou recente CD”.

Neumanne Pinto disse que ficou irritado quando soube que o Maior São João do Mundo, de Campina Grande, recebeu veto do governo Ricardo Coutinho ao anunciar que não vai apoiar. “Brigou com Campina, brigou comigo”, disse o escritor considerando uma atitude pequena do secretario e governo.

- Chico Cesar assume uma postura de censura inaceitável, do tipo que bem lembra a fase nazi-fascista, onde o Estado impunha o seu gosto cultural à sociedade, mas vivemos uma nova fase – conceituou Neumanne Pinto dizendo-se inimigo numero 1 do forro de plástico.

- Meu gosto popular não pode prevalecer sobre o da sociedade porque ao Estado está previsto prover a todos de arte e cultura sem veto à música produzida por Manoel Gurgel ou qualquer banda de forro considerada de plástico, pois a sociedade tem direito de escolher e ouvir – argumentou.

Para o jornalista, “o Secretário Chico César se revela medíocre e incompetente quando não consegue resolver seus problemas enquanto gestor público, mas vetar – isso é inadmissível”.

Ufa !!!... só faltou, meu amigo Zé, você terminar sua entrevista com a frase do Capitão Nascimento – Chico César ! pede pra sair! Pede pra sair!
Menos, né Zé? menos... por favor. Eu não tenho nem quero ter, muito até pelo contrário, cargo ou sequer um parente empregado no atual governo, nem mesmo procuração para defendê-lo, mas, acho que você exagerou.

A discussão era para ser de temática cultural. Mas, você, com a ajudinha de WS, tornou-a política. Além do mais não me consta que o Estado esteja impondo o gosto musical do Secretário de Cultura ou, proibindo a quem quer que seja de cultuar o forró de plástico, mas... com meu dinheiro ? isso não. Outra declaração que me chamou a atenção foi quando você disse : ... “Brigou com Campina, brigou comigo”. Louvável e meritória a sua paixão por essa cidade tão importante em nosso cenário cultural. Eu também gosto muito da Campina Grande que me deu régua e compasso, mas, você falou como o pai de Campina Grande, quando nem mesmo é filho. E, pior, para defender a manutenção, proliferação e o incentivo estatal da anti-música que já se instalou como vírus, não só em Campina, mas em toda Paraíba, e justamente no período junino, quando nossa origem cultural mais necessita de apoio para não cair em extinção. Ah... Zé ! me perdoe... por favor.

Posso estar parecendo insolente discordando de tamanha inteligência e cultura que você tem acumulado em sua admirável trajetória profissional, mas, é o que eu penso. Quantos aos ataques pessoais a Chico César, na minha ótica, injustos para um artista do quilate dele e, desnecessários, para um homem da sua grandeza, ele que se defenda. Se quiser. No mais, meu abraço. Mas, prefiro o Texto do campinense Bráulio Tavares.

P.S. Já ia esquecendo. Feliz Aniversário no dia 18 que se aproxima.

 
Nota: as imagens do Google foram colocadas por este blog e não oriundas do texto original.

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