terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
JOANA D´ARC
Joana D´Arc - Tela de Jules Lenepveu |
Filha de camponeses, se dizia inspirada por Deus. Contribuiu de forma decisiva, mudando o rumo da Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra.
Em 30 de maio de 1431, os ingleses a condenaram à morte na fogueira, sob a acusação de bruxaria.
No mesmo dia, em 1920, foi canonizada pela Igreja.
domingo, 29 de maio de 2011
PRESENTE DE DOMINGO...
TREM DE ALAGOAS
Ascenso Ferreira
O sino bate,
o condutor apita o apito,
Solta o trem de ferro um grito,
põe-se logo a caminhar…
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
Mergulham mocambos,
nos mangues molhados,
moleques, mulatos,
vêm vê-lo passar.
Adeus !
- Adeus !
Mangueiras, coqueiros,
cajueiros em flor,
cajueiros com frutos
já bons de chupar...
- Adeus morena do cabelo cacheado !
Mangabas maduras,
mamões amarelos,
mamões amarelos,
que amostram molengos
as mamas macias
pra a gente mamar
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
Na boca da mata
ha furnas incríveis
que em coisas terríveis
nos fazem pensar:
- Ali dorme o Pai-da-Mata
- Ali é a casa das caiporas
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
Meu Deus ! Já deixamos
a praia tão longe…
No entanto avistamos
bem perto outro mar...
Danou-se ! Se move,
se arqueia, faz onda...
Que nada ! É um partido
já bom de cortar...
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
Cana caiana,
cana rôxa,
cana fita,
cada qual a mais bonita,
todas boas de chupar...
- Adeus morena do cabelo cacheado !
- Ali dorme o Pai-da-Matta !
- Ali é a casa das caiporas
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
sábado, 28 de maio de 2011
PORQUE HOJE É SÁBADO...
VOU DANADO PRA CATENDE
Leonardo Dantas Silva
Houve um tempo em que o poeta Ascenso Ferreira fascinava todos os recifenses com as suas estórias.
Ascenso é, na vida boêmia do Recife, um personagem à procura de um autor. Falta, ainda, como também acontece com o poeta Eugênio Coimbra Júnior e com o advogado Demócrito de Souza, quem se dê ao trabalho de catalogar as suas diferentes estórias, a fim de reuni-las em livro.
Ascenso é, na vida boêmia do Recife, um personagem à procura de um autor. Falta, ainda, como também acontece com o poeta Eugênio Coimbra Júnior e com o advogado Demócrito de Souza, quem se dê ao trabalho de catalogar as suas diferentes estórias, a fim de reuni-las em livro.
Registra, o também poeta Mauro Mota, uma história contada pelo vizinho e amigo de Ascenso Ferreira, Durval Mendes, de um atropelamento de que foi vitima o nosso personagem:
Andava Ascenso pelas ruas do subúrbio, displicente e desajeitadamente, quando, ao atravessar uma rua, sem olhar para qualquer lado e muito menos para o chão onde pisava, foi alcançado por um carro que vinha em velocidade moderada.
Com a “colisão”, lá se foi ao chão o “gigante”, de mais de cem quilos “arrumados” em cerca de dois metros de esqueleto, encimado por um chapéu do Chile de mais de meio metro de diâmetro.
– Todo aquele homenzarrão terminou por ir de encontro ao calçamento.
Caído, o poeta esbraveja, com aquele vozeirão conhecido por todo Recife boêmio:
– Socorro! Me acudam!
– Levei uma pancada na cabeça e fraturei a base do crânio!
– Vou morrer… Estou perdendo a consciência e vejo tudo escuro!
– Vou morrer!
Mais do que depressa o poeta é socorrido pelo vizinho que o leva, no próprio veículo causador do acidente, para o Hospital do Pronto Socorro, na Rua Fernandes Vieira.
Aos berros, o poeta entra no hospital, pondo em rebuliço toda a equipe médica de plantão que, quase a um só tempo, queria socorrer Ascenso.
Figura estimada de todo o Recife, logo se formou uma roda de médicos e acadêmicos, procurando atender o poeta de maneira mais prestimosa possível.
Feitos os exames, o experiente profissional chegou ao diagnóstico:
Ascenso não tinha nada, tão somente medo.
E, para provar que o velho boêmio estava em pleno uso de memória, fez um desafio:
– Gosto muito de seus poemas, disse o médico. Será que o senhor poderia recitar uma para nós? O senhor ainda sabe algum de cor?
Falando pausado, com a voz de menino chorão, o poeta interrogou:
– Meu nego, qual que vosmicê deseja ouvir?
– Trem de Alagoas, respondeu o médico, por certo oriundo da “Terra dos Marechais”.
– Então, lá vai:
O sino bate
O condutor apita o apito
Solta o trem de ferro um grito
põe-se logo a caminhar
– Vou danado pra Catende
vou danado pra Catende
vou danado pra Catende
Com vontade de chegar.”
Dando inflexão às palavras. Recitando com aquela entonação rítmica só conseguida por ele, de modo a dar vida aos seus versos, o poeta reanima-se: Levanta a voz, sustenta a entonação, os decibéis tomam conta de todo o quarto e fluem pelo corredor. Médicos e acadêmicos vêm ao seu encontro para escutar o seu recitativo:
– Mergulham mocambos
Nos mangues molhados,
Moleques mulatos
Vêm vê-lo passar
– Adeus
– Adeus
Ascenso levanta-se da cama, ganha o corredor, acende um charuto e continua no seu recitativo.
Sem esquecer uma só letra de sua pernambucaníssima obra.
Altivo, já caminhando com passos largos, continua a declamar:
Cana caiana,
cana roxa,
cana fita,
cada qual a mais bonita,
todas boas de chupar…
E ao chegar à porta do hospital, o poeta vai finalizando o poema:
– Adeus, morena do cabelo cacheado!
E não mais voltou ao Pronto Socorro.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
TORCEDOR OFICIAL E AUTÊNTICO!
Meu pai, à espera da final da Champions League entre Barcelona e Manchester, sábado, dia 28/05, às 15h30min.
E quase que a camisa não chega a tempo. Foi por pouco!
CAÍ NO MUNDO E NÃO SEI COMO VOLTAR
Imagem Google |
CAÍ NO MUNDO E NÃO SEI COMO VOLTAR
Eduardo Galeano*
O que acontece comigo é que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte só por que alguém adicionou uma nova função ou a diminuiu um pouco…
Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos, pendurávamos na corda junto com outras roupinhas, passávamos, dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujadas.
E eles, nossos nenês, apenas cresceram e tiveram seus próprios filhos se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Se entregaram, inescrupulosamente, às descartáveis!
Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas, guardando o muco no lenço de tecido, de bolso.
Nããão! Eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta.
O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que acontece é que não consigo trocar os instrumentos musicais uma vez por ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades.
Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez.
Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres! É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas para toda a vida!
E mais! Se compravam para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça.
E acontece que em nosso nem tão longo matrimônio, tivemos mais cozinhas do que as que haviam em todo o bairro em minha infância, e trocamos de refrigerador três vezes.
Nos estão incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que possamos trocar. Nada se arruma. O obsoleto é de fábrica.
Aonde estão os sapateiros fazendo meia-solas dos tênis Nike? Alguém viu algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa? Quem arruma as facas elétricas? O afiador ou o eletricista? Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os talabarteiros?
Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a história da humanidade.
Quem tem menos de 30 anos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo! Eu juro! E tenho menos de … anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do século XVII). Não existia o plástico, nem o nylon. A borracha só víamos nas rodas dos autos e, as que não estavam rodando, as queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava…
Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor…. É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com “guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa”, mudar para o “compre e jogue fora que já vem um novo modelo”.
Troca-se de carro a cada 3 anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado… E precisamos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!!! Mas… por amor de Deus!
Minha cabeça não resiste tanto. Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real.
E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher, e o mesmo nome (e vá que era um nome para trocar). Me educaram para guardar tudo. Tuuuudo! O que servia e o que não servia. Por que, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir.
Acreditávamos em tudo. Sim, já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (por que éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como não guardamos o primeiro cocô.
Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular a poucos meses de o comprar? Será que quando as coisas são conseguidas tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?
Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os talheres e a terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres. E guardávamos…
Como guardávamos! Tuudo! Guardávamos as tampinhas dos refrescos! Como, para quê? Fazíamos limpadores de calçadas, para colocar diante da porta para tirar o barro. Dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a cortiça, as martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.
Tuudo guardávamos! Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar acendedores descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a recarga para acendedores descartáveis. E as Gillette – até partidas ao meio – se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de corned-beef, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave.
E as pilhas! As pilhas das primeiras Spica passavam do congelador ao telhado da casa. Por que não sabíamos bem se se devia dar calor ou frio para que durassem um pouco mais. Não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos do que um jasmim. As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis.
Os jornais!!! Serviam para tudo: para servir de forro para as botas de borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as coisa para enrolar.
Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um pedaço de carne! E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos cigarros para fazer guias de enfeites de natal, e as páginas dos almanaques para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios para algum medicamento que não o trouxesse, e os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Volcán era a marca de um fogão que funcionava com gás de querosene) desde outra que estivesse acesa, e as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um valete de espada que dizia “esta é um 4 de paus”.
As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.
Eu sei o que nos acontecia: nos custava muito declarar a morte de nossos objetos. Assim como hoje as novas gerações decidem ‘matá-los’ tão-logo aparentem deixar de ser úteis, aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!!!
E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, e nos disseram: ‘Comam o sorvete e depois joguem o copinho fora’, nós dizíamos que sim, mas, imagina que a tirávamos fora!!! As colocávamos a viver na estante dos copos e das taças. As latas de ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros, as primeiras latas de cerveja em porta-lápis e as cortiças esperaram encontrar-se com uma garrafa.
E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. Ah!!! Não vou fazer!!!
Morro por dizer que hoje não só os eletrodomésticos são descartáveis; também o matrimônio e até a amizade são descartáveis. Mas não cometerei a imprudência de comparar objetos com pessoas.
Me mordo para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer.
Não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno.
Não vou dizer que aos velhos se declara a morte apenas começam a falhar em suas funções, que aos cônjuges se trocam por modelos mais novos, que as pessoas a que lhes falta alguma função se discrimina o que se valoriza aos mais bonitos, com brilhos, com brilhantina no cabelo e glamour.
Esta só é uma crônica que fala de fraldas e de celulares. Do contrário, se misturariam as coisas, teria que pensar seriamente em entregar à ‘bruxa’, como parte do pagamento de uma senhora com menos quilômetros e alguma função nova. Mas, como sou lento para transitar este mundo da reposição e corro o risco de que a ‘bruxa’ me ganhe a mão e seja eu o entregue…
*Jornalista e escritor uruguaio
quarta-feira, 25 de maio de 2011
terça-feira, 24 de maio de 2011
FIM DA NOVELA...
Imagem: http://jpb1.cabobranco.tv.br/ - 24/05/2011 |
Hoje a repórter do JPB1, Patrícia Rocha, veio conferir a retirada da carcaça do carro, que estava ao lado do meu prédio e servia de criadouro de dengue, novela que se arrastava desde setembro do ano passado.
Mais uma vez agradeço à TV Cabo Branco e toda a equipe do JPB1, pois sem eles isso não teria sido resolvido.
Vejam o vídeo abaixo. A imagem e o som não estão muito bons porque capturei da tela do meu computador.
domingo, 22 de maio de 2011
AGRADECIMENTO À TV CABO BRANCO
Quero agradecer, de coração, a todos os que fazem a TV Cabo Branco e em especial à produção, técnicos, repórteres e apresentadores do Jornal JPB1, que vai ao ar diariamente às 12 horas, pela força que me deram colocando para toda a Paraíba ver a história da carcaça de um carro que estava ao lado do meu prédio, servindo de criadouro para larvas de dengue, segundo constatado pelo Senhor Antonio Medeiros, da Vigilância Sanitária de João Pessoa, no dia 20/04/2011, quarta-feira da Semana Santa, quando esteve aqui a meu pedido, para ver a situação do carro.
Patrícia Rocha me entrevistou em 16/05/2011 |
Eles colocaram a história no ar nos dias 16 e 19 últimos e hoje o carro foi retirado daqui. Não sei e nem vi quem tirou, mas ele desapareceu.
Carla Visani apresenta o JPB1 com Bruno Sakaue |
Bruno Sakaue me entrevistou em 18/05/2011 |
Deus abençoe quem fez isso!
Fátima Vieira
PRESENTE DE DOMINGO...
ENVELHECER
Bastos Tigre
Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.
Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.
Não te seja a velhice enfermidade!
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!
Que a neve caia! o teu ardor não mude!
Mantém-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.
sábado, 21 de maio de 2011
PORQUE HOJE É SÁBADO...
NA FILA DA LIBERDADE
Mário Prata
É interessante notar as diferenças em filas, de um lugar para o outro. Em Florianópolis, por exemplo, tanto nas filas de banco como de supermercado, as pessoas ficam conversando, com calma, esperando. Mesmo no Rio de Janeiro, enfrenta-se uma fila com mais humor.
Em São Paulo, a fila é uma tortura. A fila é triste e interminável. Parece que, se fosse possível, a gente mataria aqueles quatro ou cinco que estão na nossa frente. E, se alguém conversa com alguém, o assunto é a própria fila. Uns chegam a dizer palavras chulas. Xingam, como se a culpa fosse da pobre mocinha que está do outro lado da fila, muito mais aflita que os filenses.
Pois foi numa dessas filas que o fato se deu.
Era uma bela fila, de umas dez pessoas. E em supermercado, com aqueles carrinhos lotados, a gente ali olhando a mocinha tirar latinha por latinha, rolo por rolo de papel higiênico, aquela coisa que não tem fim mesmo. E naquela fila tinha um garotinho de uns dez anos, que existe apenas uma palavra para definir a figurinha: um pentelho. Como muito bem define o Houaiss: “pessoa que exaspera com sua presença, que importuna, que não dá paz aos outros”.
Pois ali estava o pentelhinho no auge de sua pentelhação. Quanto mais demorava, mais ele se aprimorava. E a mãe, ao lado, impassível. Chegou uma hora que o garoto começou a mexer nas compras dos outros. Tirar leite condensado de um carrinho e colocar no outro. Gritava, ria, dava piruetas. Era o reizinho da fila. E a mãe, não era com ela.
Na fila ao lado (aquela de velhos, deficientes e grávidas), tinha um casal de velhinhos. Mas velhinhos mesmo, de mãos dadas. Ali, pelo oitenta anos. A velhinha, não aguentando mais a situação, resolveu tomar as dores de todos e foi falar com a mãe. Que ela desse um jeito no garoto, que ela tomasse uma providência. No que a mãe, de alto e bom tom:
- Educo meu filho assim, minha senhora. Com liberdade, sem repressão. Meu filho é livre e feliz. É assim que se deve educar as crianças hoje em dia.
A velhinha ainda ameaçou dizer alguma coisa, mas se sentiu antiga, ultrapassada. Voltou para a sua fila. Só que não encontrou o seu marido, que havia sumido.
Não demorou muito e voltou o marido com um galão de água de cinco litros e, calmamente se aproximou da mãe do pentelho, abriu e entornou tudo na cabeça da mulher.
- O que é isso, meu senhor?
O velhinho colocou o vasilhame (que palavra antiga) no seu carrinho e enquanto a mulher esbravejava e o pentelho morria de rir, disse bem alto:
- Também fui educado com liberdade!!!
Foi ovacionado.
Assinar:
Postagens (Atom)