domingo, 24 de abril de 2011

#JÁINDO


#JÁINDO


O #Jáindo é um lugar. Movente, indefinido, vago. Um lugar onde ainda não saímos de casa, mas cumprimos a rotina como se ela já não fosse nossa, onde intimamente fazemos mil vezes a mala, dispondo as coisas que queremos levar, retirando outras coisas que antes julgáramos imprescindíveis, escolhendo as várias bolsinhas onde separaremos nossas miudezas.

O #jáindo é um lugar onde ficamos inseguras e queremos provar que somos imprescindíveis, mesmo não estando em casa. E nos pegamos a fazer listas de compras, imensas listas de compras, “para que não falte nada enquanto estivermos fora”.

A viagem só se dará na quarta-feira, entretanto, nos pegamos a telefonar para o encanador, para o entregador de água, para a professora de violino. A conversa? Sempre a mesma. – Vou viajar na quarta-feira, o  senhor poderia ficar a postos, se alguma coisa acontecer na minha casa?”

- Andréa, não estarei em casa na quarta. Vou viajar, mas deixo tudo arrumado para a aulinha de violino de Gabi. E ela me deseja boa viagem em sol menor, haveria uma pontinha de alívio na sua voz?

O #Jáindo é um lugar onde fazemos planos, num presente infinitivo, angustiado e saboroso, porquanto, muitos deles, só terão o frescor de terem sido pensados, sem nunca se realizarem. – E se eu encontrar Fernando? – E se não houver travesseiro alto no quarto do hotel? – E se o melão de lá for mais doce do que o da nossa casa? – E se? E se?

Vou confessar: Gosto mais do #Jáindo do que do #Tendochegado. No #Jáindo, sou essa passageira que sequer tomou seu acento, e vaga por entre os intervalos de ainda não ter ido e quase indo. Nem escolheu ainda o traje da viagem, mas já se veste de uma aura só dela, de importância, a demandar mãos que dirão “tchauzinho”, abraços e beijos mais demorados, um misto de saudade ou alívio, não se saberá.

Estou no #Jáindo. Os próximos dias se desfolharão num tempo estranho, 24 horas longas e curtas, cheias dessa zona inclinada de ainda não ter ido, mas quase indo, um pé aqui outro lá, vamos Nana querida, que essa viagem não será de passeio, mas de conquistas!

Joana Belarmino


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