BANHO (RURAL)
Zila Mamede
De cabaça na
mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava
dos arenzés de alcova. Caminhando
à tarde era que a moça desertava
dos arenzés de alcova. Caminhando
um passo brando
pelas roças ia
nas vingas nem tocando; reesmagava
na areia os próprios passos, tinha o rio
nas vingas nem tocando; reesmagava
na areia os próprios passos, tinha o rio
com margens
engolidas por tabocas,
feito mais de abandono que de estrada
e muito mais de estrada que de rio
feito mais de abandono que de estrada
e muito mais de estrada que de rio
onde em cacimba
e lodo se assentava
água salobre rasa. Salitroso
era o também caminho da cacimba
água salobre rasa. Salitroso
era o também caminho da cacimba
e mais: o
salitroso era deserto.
A moça ali perdia-se, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava
A moça ali perdia-se, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava
por longo
capinzal, cantarolando:
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
velando vales,
curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.
Moldava-se em
sabão, estremecida,
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
Secava-se no
vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo.
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo.
Depois, voltava
lentamente os rastos
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
Então era a moça
regressava
tendo nos olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural.
tendo nos olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural.
Zila da Costa Mamede nasceu em Nova Palmeira, na Paraíba, no dia 10 de setembro de 1929.
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