ELEGIA LÍRICA
Vinicius de
Moraes
(...)
A minha namorada é tão bonita, tem olhos
como besourinhos do céu
Tem olhos como estrelinhas que estão sempre
balbuciando aos passarinhos...
É tão bonita! tem um cabelo fino, um corpo
menino e um andar pequenino
E é a minha namorada... vai e vem como uma
patativa, de repente morre de amor
Tem fala de S e dá a impressão que está
entrando por uma nuvem adentro...
Meu Deus, eu queria brincar com ela, fazer
comidinha, jogar nai-ou-nentes
Rir e num átimo dar um beijo nela e sair
correndo
E ficar de longe espiando-lhe a zanga, meio
vexado, meio sem saber o que faça...
A minha namorada é muito culta, sabe
aritmética, geografia, história, contraponto
E se eu lhe perguntar qual a cor mais
bonita ela não dirá que é a roxa porém brique.
Ela faz coleção de cactos, acorda cedo vai
para o trabalho
E nunca se esquece que é a menininha do
poeta.
Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer ir à
Europa? ela diz: Quero se mamãe for!
Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer casar
comigo? Ela diz... — não, ela não acredita.
É doce! gosta muito de mim e sabe dizer sem
lágrimas:
Vou sentir tantas saudades quando você
for...
É uma nossa senhorazinha, é uma cigana, é
uma coisa
Que me faz chorar na rua, dançar no quarto,
ter vontade de me matar e de ser presidente da república.
É boba, ela! tudo faz, tudo sabe, é linda,
ó anjo de Domremy!
Dêem-lhe uma espada, constrói um reino ;
dêem-lhe uma agulha, faz um crochê
Dêem-lhe um teclado, faz uma aurora,
dêem-lhe razão, faz uma briga...!
E do pobre ser que Deus lhe deu, eu, filho
pródigo, poeta cheio de erros
Ela fez um eterno perdido...
O
poema acima foi extraído do livro"Antologia Poética", Editora do
Autor – Rio de Janeiro, 1960, pág. 68.
Imagem Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário