Feira de Jaguaribe, sempre às quartas-feiras e a melhor da cidade |
JAGUARIBE, MEU MUNDO*
Escrito por Carlos Pereira
Naquele tempo, a cidade era o quintal da minha casa, ali na rua da Concórdia. E Jaguaribe era o meu mundo.
No quintal eu brincava de pega, de bola de meia, de pão-quente e até de anel. Porque havia espaço e tempo para tudo. Até mesmo para subir nas mangueiras, separadas pelos irmãos, outorgando-se a cada um a propriedade das mangas - colhidas com zelo para não machucá-las. As que sobravam do lanche e da sobremesa, eram expostas em vistosas bacias de alumínio (naquela época ainda não havia plástico), nos balcões da venda de “Seu” Benedito -na esquina com a Vasco da Gama, onde o velho pai dividia com outros o mercado de estivas e cereais do bairro.
Ah! Que tempos aqueles!. Hoje se resumem em memória e saudades que aos poucos vão se apagando...
O cinema Jaguaribe, o medo de “Imbuzeiro” – um velho feio e sujo que botava os meninos pra correr, o futebol pra quem tinha comungado na missa das sete rezada por Frei Jorge na Igreja do Rosário onde fui coroinha e até latim tive de decorar “dominus vosbicum – et cum spiritu tuo”. A sinuca de Alcântara, na Vera Cruz, onde num domingo meu irmão Zé Humberto, já rapaz, taco na mão, foi retirado do salão puxado pela orelha, por “Seu” Benedito, o pai camarada mas disciplinador que não queria “ver filho viciado em jogo”.
E a Festa do Rosário? Ah! A Festa do Rosário, a melhor e mais completa festa de bairro da cidade. Todos os anos, no começo de outubro, quando já não chovia no litoral, a gente – depois da aula no Grupo Isabel Maria ou já no ginásio do Liceu – ia pra casa, tomava banho, se perfumava com seiva de alfazema e rumava para o pavilhão central, com a melhor roupa, o sorriso mais aberto e alguns trocados no bolso para as primeiras doses de rum com coca-cola ou um copinho de cerveja Bhrama Teutônia: muito para tomar coragem e pouco pra não se viciar. Pegar coragem para mandar um bilhete à menina mais bonita do pavilhão, com quem se trocava os primeiros olhares acumpliciados e, quem sabe, depois dividia os primeiros amassos...
Jaguaribe da primeira namorada, do primeiro beijo, do primeiro amor. Da menina normalista que me fazia ouvir o LP de 78 rotações de Nelson Gonçalves cantando “vestida de azul e branco/trazendo um sorriso franco/no rostinho encantador” – quem não se lembra, hein! Gonzaga, hein! Martinho Moreira Franco?
Jaguaribe do Luzeirinho, onde o gordo Antônio servia o melhor picado de porco da cidade, enchendo de gente as calçadas do seu bar na Vasco da Gama às quartas e sábados – local em que mulher “suspeita” não tinha vez. E o grau de suspeição, ele é quem definia e lembro que até deputado foi convidado a se retirar do ambiente quando, certa vez, se fazia acompanhar de uma dessas senhoras...
A! Jaguaribe da minha infância e da minha adolescência...
*Esta crônica é em homenagem ao meu pai, pelo Dia dos Pais amanhã. Ele amava Jaguaribe, bairro onde passou parte da infância, a adolescência e onde viveu até 1953, quando mudamo-nos para Curitiba e depois para o Recife. Quando voltamos para morar em João Pessoa, em 2007, eu só quis morar em Jaguaribe, para que ele passasse os últimos anos da sua vida num lugar que amava e perto da família, que mora quase toda aqui.
*Esta crônica é em homenagem ao meu pai, pelo Dia dos Pais amanhã. Ele amava Jaguaribe, bairro onde passou parte da infância, a adolescência e onde viveu até 1953, quando mudamo-nos para Curitiba e depois para o Recife. Quando voltamos para morar em João Pessoa, em 2007, eu só quis morar em Jaguaribe, para que ele passasse os últimos anos da sua vida num lugar que amava e perto da família, que mora quase toda aqui.
Imagem Google
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