domingo, 27 de março de 2011

PARABÉNS, PAPAI!!!

Foto em 20/03/2011

Meu presente de domingo nesta data é especial porque é o aniversário do meu pai. Está fazendo 89 anos e acho que ainda fará muitos mais, pois na família dele todos vivem muito, até depois dos 90 anos. Como ele é o caçula de nove irmãos, então deverá viver um bocado ainda.

Aos 28 anos
Meu pai nasceu no Pilar – PB, terra de José Lins do Rego, situada a 60km de João Pessoa. Menino ainda, veio morar na capital, na casa do irmão que já era casado e 16 anos mais velho do que ele. Voltou para o Pilar e saiu aos 18 anos para servir ao Exército e morar em João Pessoa.

Meu avô, pai dele, era lavrador e muito pobre. Muitas vezes não tinham quase nada para comer. Papai, ainda criança, ajudava meu avô na lavoura e ia com ele trabalhar em outras cidades, muitas vezes fazendo o trajeto a pé. Acho que por conta dessa origem tão pobre, ele sempre foi muito preocupado que não nos faltasse alimentação. Todo o dinheiro que recebia era sempre para a comida em primeiro lugar.  


Rodou a Paraíba nessa caminhonete

Já adulto trabalhou em João Pessoa numa representação da fábrica de charutos Suerdieck. Casou em novembro de 1951 e quando a empresa faliu ele foi trabalhar no Banco Lar Brasileiro, associado ao Chase Manhattan Bank, em Curitiba, para onde fomos em 1953, antes que eu completasse um ano de idade, emprego arranjado pelo antigo empregador falido, que nunca lhe pagou os direitos trabalhistas. Como eu e ele tivemos pneumonia em Curitiba, o médico nos aconselhou a voltar para o Nordeste e ele foi transferido para uma agência do Banco no Recife, cidade onde moramos por 51 anos. Voltar para João Pessoa e para perto da família, foi um sonho que ele acalentou a vida toda, que nunca pensou em ver realizado e que conseguiu em 2007.


Com os colegas do Banco, no Recife

Foi demitido do Lar Brasileiro com quase 10 anos de trabalho e se tivesse procurado um advogado, certamente teria sido readmitido, pois já tinha estabilidade, mas ele sempre foi avesso a reclamar judicialmente o que lhe era devido, certamente por acomodação ou falta de orientação. Com o dinheiro da demissão comprou o ponto de uma cantina que funcionava no 6º andar do Edifício da Receita Federal, no Recife, onde ficou por 8 anos, até ser mandando embora pelo superintendente da época, sem direito a nada, já que o ponto pertencia à Receita. Trabalhávamos todos lá, inclusive eu e meu irmão, ainda crianças. Isso nos ensinou a ter responsabilidades logo cedo.

Quando foi praticamente expulso e ficou sem trabalho, um dos funcionários da Receita, arranjou um emprego para ele numa beneficiadora de mármore. Além do trabalho normal e para ganhar um dinheirinho a mais, trabalhava também como vigia aos sábados e domingos, o dia inteiro, e eu ia levar almoço para ele. Essa situação me doía bastante e como eu já era digitadora no Serpro, resolvi arranjar mais outro emprego e tirá-lo desse suplício de final de semana. Por conta disso, atrasei meu curso de jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco e terminei trancando a matrícula em definitivo, atitude da qual nunca me arrependi. Onze anos depois é que voltei a estudar.


Com 3 das 7 irmãs

Ele não ficou muito tempo nesse emprego e a mesma pessoa que o arranjou, conseguiu outro no SESI, onde ele trabalhou por 18 anos no almoxarifado e se aposentou na compulsória, aos 70 anos. Nunca chegou atrasado ao trabalho, era durão e exigente com os fornecedores e só faltava por motivo de doença. Via os colegas reclamando de tudo, mas ele nunca reclamou de nada e sempre foi trabalhar satisfeito.

Foi um dono de casa de dar inveja. Ajudava minha mãe e a mim nas tarefas domésticas e nunca deixou que fôssemos à feira ou ao açougue. Uma vez cortou a mão e não pôde fazer a feira, mas nos acompanhou até lá para nos mostrar os feirantes dos quais era freguês e para que ninguém nos enganasse. E cozinha bem! Hoje não mais como antes porque a coluna não o deixa ficar em pé muito tempo, mas, às sextas-feiras, ainda faz o feijão que come durante toda a semana. E quando acorda sem muita dor na coluna, faz o café, como fazia antigamente, pois era o primeiro que acordava e saía para trabalhar, então já deixava tudo pronto para nós. Pense num dono de casa bom!

Ele e minha mãe brigavam, como a maioria dos casais, mas nunca por causa de mulher, de bebedeira ou porque ele deixou de cumprir suas obrigações de marido e pai. Ele sempre disse que namorou, bebeu, divertiu-se, enfim, fez tudo que tinha direito quando solteiro, mas depois de casado, só minha mãe e a família existiam para ele. Claro que ele continuou a gostar (ainda gosta e toma) de uma cachacinha antes do almoço, mas é só isso. Nada de farras nem mulheres. Jamais passamos por constrangimentos por um mau comportamento do meu pai.

Papai é uma pessoa bem-humorada, brincalhão, mas ninguém pise nos calos dele que explode feito bomba! É inteligente, mas só fez o curso primário. Lê jornal diariamente para se inteirar das notícias, pois como tem sérios problemas auditivos, não escuta bem a TV. Usa aparelhos nos dois ouvidos, mas não gosta. Coloca às 5 da tarde e tira quando vai dormir, por volta das 22 horas. Esse é um problema sério e que causa um pouco de estresse a nós dois, pois tenho que repetir as coisas 3, 4, 5 vezes, além de falar alto (minha voz é poderosa por natureza) para que ele escute. Como agora está com aparelhos novos, espero que se convença a usá-los o dia inteiro para que possa me escutar.

Com mamãe, meu irmão e minha sobrinha
É portador de dois tipos de câncer: um na próstata, há 13 anos, e outro na medula (mieloma múltiplo), que causa anemia e ataca os ossos, descoberto em 2009 e que não é metástase do outro. Faz quimioterapia para o mieloma, as taxas baixam, então precisa tomar sangue, coisa que ele detesta, e por aí vai. A coluna dele, que é um S de tão troncha, o aperreia muito também e há dias em que as dores são intensas. Também usa um marcapasso. Muitas vezes pergunta a Deus o que fez na vida para merecer tanto castigo no que se refere à saúde. Tadinho...

Mesmo com todos esses poréns, ele não desanima. Continua conversador (adora contar as coisas do passado dele e lembra de onde moravam as pessoas aqui no bairro de Jaguaribe, onde residimos atualmente), teimoso (quer fazer tudo o que não pode, inclusive trabalhos em casa) e não é exigente com nada. Não se importa de andar com roupa rasgada, sapato furado e não sai assim porque não deixo. Continua simples, sem vaidades e preocupado em ter a alimentação antes de tudo.


Nós, a caminho de Caruaru,
no Trem do Forró

Meu pai sempre foi um homem decente, sempre deu bons exemplos para os filhos e netos e eu tenho muito orgulho de ser sua filha. Faço o que posso para que seus dias sejam os mais amenos possíveis. Faço o que posso para que suas doenças não o impeçam de continuar alegre, brincalhão e conversador, como sempre foi. Devo isso a ele, por ter me criado dando bons exemplos e me ajudado a ser a pessoa que sou hoje.

Parabéns, querido e amado pai! Que Deus o abençoe e ilumine sempre!

E dedico-lhe esta bela poesia de Mario Quintana.

Fátima Vieira



AS MÃOS DO MEU PAI

Estas são as mãos do meu pai

Mário Quintana

As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?

Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...


28 comentários:

Madá disse...

Fátima!

Parabéns para o seu pai, não só pela passagem do seu aniversário, mas sobretudo pela filha dedicada que é você!

Parabenizo você também, não só pelo relato autêntico(crônica), dedicado a ele, mas sobretudo por fazer esta dedicatória quando ele ainda se encontra nesta dimensão.

Bjos e um grande abraço nele!

Madá

Fatita Vieira disse...

Querida Madá,

Obrigada pelos parabéns e, principalmente, pelo carinho que você nos dedica.

Meu pai merece o melhor de mim, por ser quem é e, por conta dos seus ensinamentos e exemplos, ter me levado a ser uma pessoa decente e que dá muito valor à família.

Beijos!

Fatita Vieira disse...

Da minha amiga Cássia Neves:

Desejo de coração, muita paz, alegria e saúde.

Feliz Aniversário!

Quem dera ainda tivesse o meu...

Fátima, ame-o muito!

Fatita Vieira disse...

Obrigada, Cássia, pelos parabéns e pelo carinho.

Deus a abençoe!

Fatita Vieira disse...

Da minha amiga Neide Alves:

Muito boa sorte pra ele e que Deus cubra de benção, parabéns aos dois a felicidade de se ter alguém querido junto não tem preço e eu sei o quanto vc ama este homem.

Beijimmmmmm

Fatita Vieira disse...

Querida Neide,

Obrigada pelos parabéns!

Lembra daquele passeio de catamarã que nós fizemos? Ele não quer muita conversa com águas profundas do mar e estava meio temeroso, mas foi muito legal!

E graças a você, que ganhou duas passagens, meu deu uma e eu só comprei a dele.

Agradeço pelo carinho e por você ser minha amiga.

Beijos!

Fatita Vieira disse...

Da minha amiga Marivete:

Parabéns e vida longa para ele.

Bjs
Marivete

Fatita Vieira disse...

Obrigada, querida Mari!

Beijos!

Fatita Vieira disse...

Da amiga querida, Antonieta Barbosa:

PARABÉNS, FATITA, AO SEU PAPY, PELO ANIVERSÁRIO, E A VOCÊ PELA LINDA E SINCERA HOMENAGEM!!!

BJS

ANTONIETA

Fatita Vieira disse...

Obrigada Antonieta, pelo carinho.

Beijos!

Fatita Vieira disse...

Do meu amigo Chopinho, lá de MG:

Abrace o Irmão Ademar pelo aniversário e que ele continue a ser prodigalizado com as bênção divinas.

Vocês também são sempre lembrados em nossas preces.

Saúde, paz, alegria e felicidade.

FELIZ ANIVERSÁRIO.

Bjs
Chopin

Fatita Vieira disse...

Obrigada, querido Chopinho, por sempre lembrar de nós nas suas preces.

Beijos!

Fatita Vieira disse...

Da minha amiga Luciana Pires, que também faz aniversário hoje:

Oi querida!

Lembrei muito de seu pai hoje e amanheci rezando por ele.

MANDO MEU ABRAÇO e meus votos de muita alegria, saúde e PAZ!

Beijão,
Lu

Fatita Vieira disse...

Obrigada, Lu, pelo carinho e preocupação com ele.

E parabéns para você também!

Beijos!

Fatita Vieira disse...

De Neuza Botelho, minha companheira no Grupo Mistura Fina:

Fatita.

Adorei seu pai. Encantei-me com sua coragem de viver, bons exemplos dados em uma vida tão longa e com o temperamento expansivo e sincero.

Que o Pai o proteja, cure suas doenças (deve ser bem difícil ter que fazer transfusões sempre) e o ajude a prosseguir a tradição de família: vida longa e afetividade em alta.

Parabéns também por ter criado uma filha com tanto talento no exprimir sentimentos e tão bons sentimentos.

Felicidades e muitos mas muitos beijos no aniversariante.

Sempre amiga,

Neuzinha

Fatita Vieira disse...

Neuzinha,

Muito lhe agradeço pelas palavras de carinho para com o meu pai. Ele faz jus a todas. As que dedica a mim são parte da sua generosidade, pois nem as mereço tanto.

Não é fácil mesmo fazer transfusões sempre. Já fomos à médica dele hoje e mais tarde iremos para mais uma transfusão. Fazer o quê, não é?

Um grande beijo!

Fatita Vieira disse...

De Vera Ribeiro, outra companheira do grupo Mistura Fina:

Beijos meus também!!!!!

Eu, filha única entre homens, também tive um pai de dar inveja: maravilhoso é pouco.

Afetivo, carinhoso, compreensivo, amante de todas as artes (na música: de banda a ópera), extremamente humano, solidário e de uma sabedoria discreta, calada e ativa.

Ele teria hoje 111 anos. Nasceu em janeiro de 1900. Mas, o tempo que me deu foi tudo de bom (isso é pouco).

God....como sinto falta dele.

Fatita Vieira disse...

Vera,

Agradeço os beijos para o meu pai.

É muito bom ter um pai como o seu e como o meu. A gente só tem a agradecer por essa dádiva.

Beijos!

Fatita Vieira disse...

Da minha amiga Judite Andrade:

Fátima a estória do teu pai me deixou emocionada, parece muito com a que meu pai viveu.

Parabéns a ele.

Beijos

Judite

Fatita Vieira disse...

Judite,

São histórias de vida de muita batalha e dificuldade, mas são vencedores, pois as famílias estão aí para comprovar.

Obrigada pelo carinho.

Beijos!

Unknown disse...

Fá amiga:

Tenho estado em silêncio virtual por vários dias porque, conforme te comuniquei via e-mail, seria operada, como de fato fui, da dverticulite que me maltratava havia um par de anos.
Somente agora, e ainda recuperando-me, estou voltando paulatinamente às mensagens que se acumularam em minha caixa de correio, respondendo-as, comentando-as, etc.
Este comentário é ESPECIALÍSSIMO em razão do aniversário do nosso amado pai, que me "emprestaste" um dia desses (lembras?) para preencher o vazio deixado pelo meu, que já partiu para sempre, vazio, esse, que só poderia ser minimizado por outro homem honrado e pleno de belos sentimentos em relação ao próximo.
Assim, mando nestas linhas os melhores votos de feliz aniversário para o nosso pai, assim como os parabéns para nós duas, por tê-lo em nossas vidas!
Beijo da irmã
Tatá

Fatita Vieira disse...

Querida Tatá,

Muito me emocionam os seus sentimentos e as suas palavras para com o meu pai que, segundo você, lembra o seu, o grande Francisco Julião, por conta da conduta honrada ao longo da vida. E nós duas merecemos mesmo parabéns por sermos filhas deles.

Meu pai será seu pai também enquanto você quiser. O “empréstimo” continua valendo por toda a vida.

Um grande beijo!

Fatita Vieira disse...

Do meu grande e querido amigo Pepê, lá de SP, por email:

Oi Irmãzona,

Parabéns pelas palavras ao Dema, pois eu que tive o prazer de conviver com sua família, sei que são do fundo do seu coração.

Beijos a vocês

Fatita Vieira disse...

Querido Pepê,

Você sabe mesmo que tudo o que falei sobre o meu pai é verdadeiro. Não estou jogando confetes porque é meu pai. Ele sempre foi um homem decente.

Agradeço pelo carinho.

Beijos!

Fatita Vieira disse...

Da minha amiga Nena, de SP:

Querida Fátima,

Amei, ele está ótimo, não parece que tem 89 anos, sua vida foi um exemplo de perseverança e amor pela família.
Que Deus o conserve por muitos anos junto a ti e que você continue essa filha maravilhosa que sempre foi. Fiquei muito emocionada ao ver a foto de Dna. Cinira junto com ele, às vezes parece que a ouço falando comigo quando aí estive. Deus os abençoe.
Beijos a vocês, com saudades

Nena

Fatita Vieira disse...

Querida Nena,

Minha mãe gostava muito de você e papai também, aliás, todos nós.

Você é uma pessoa linda, com uma família linda e que só nos dá prazer com a sua amizade.

Obrigada pelo carinho.

Beijos!

Unknown disse...

Fatita! Parabéns pela linda,sincera e
singela homenagem ao seu pai,por mais
um ano de vida que Deus tem acrescen-
tado a ele.
Lindo é o carinho e o cuidado seu pa-
ra com ele do qual sou testemunha ocular. Continue sempre assim,
que Deus continuára abençoando-a grandemente.
Beijos e um grande abraço.

Fatita Vieira disse...

Querida prima Gerusa,

Eu e o meu pai agradecemos o seu carinho, a sua paciência e o seu cuidado para com ele, também testemunhado por mim nos encontros familiares.

Eu não faço mais que a minha obrigação de filha, mas é uma obrigação prazerosa que, espero, dure muito tempo ainda.

Um grande beijo!