CRÔNICA DO DIA: SOLTEIROS NA PISTA
Jace
Theodoro fala da vida dos que não arrumaram a alma gêmea
JACE
THEODORO (JACETHEODORO@UOL.COM.BR)
Eles
estão ganhando as tábuas do IBGE com a mesma força que Moisés empunhou a tábua
dos 10 Mandamentos. Eles, os que ainda não encontraram a tampa da vasilha de
Tupperware perdida no armário, não chuparam a metade da laranja porque detestam
sabores cítricos e para quem a cara-metade sempre precisará de uns reparos à
Pitanguy. Eles, esses insatisfeitos. Senhoras e senhores, casados e amancebados
do Brasil, eu vos apresento os solteiros.
O último
Censo revelou que o número de solteiros está na casinha dos 90 milhões, sabe
você o que é isso, nobre leitor? Pois uma amiga (Soltinha para os íntimos),
solteira desde as caravelas, nega-se a dizer o estado civil ao recenseador.
“Casada”, responde com firmeza de quem já fez bodas de diamante, na eterna
negação de entrar para a estatística das encalhadas. Se no questionário
houvesse a opção pegadora, Soltinha não hesitaria. Solteirona, jamais.
Agora que
sabemos que os solteiros no Brasil caíram para 89. 999.999, graças à mentirinha
da amiga, vamos a essa turma. Há os que são convictos e não querem amarrar seu
burro em nenhuma sombra. Há os que esperam encontrar a alma gêmea, talhada à
perfeição, mas não foram avisados que, em terra de sapo, o príncipe foi pro
brejo faz tempo.
Solteiros
aparentam uma felicidade, diferente daquela da Clarice, nada clandestina. Não
ter de avisar a ninguém que você vai à padaria é o céu, pensava com fervor,
quando não tinha a quem prestar contas. Era de uma liberdade infinita o simples
fato de comprar a bisnaga e o leite sem narrar meu percurso no post it da
geladeira.
O fato é
que não pertenço mais aos números dos quais Soltinha não quer fazer parte nem
que lhe falte o pãozinho de Santo Antônio. Muitos são como ela, cheios de amor
pra dar. Se for de papel passado num cartório ou no altar com aliança, buquê e
bolo de cinco andares, adeus, vida marvada e solitária. Depois desse rito de
passagem, nem no alto verão o cobertor de orelha será dispensado.
Há os
que, por outro lado, são atacados pelo bruxismo noturno ao ouvir a palavra casamento.
Festas sem hora pra voltar, fins de semana com roteiro traçado ao sabor dos
ventos, lavar a louça na hora que der na veneta são seus esportes prediletos.
No máximo, um cachorro pra tomar conta. Isto, se o auau encarar suas cuecas e
calcinhas jogadas no chão do banheiro. As minhas têm horror desse pesadelo,
pedem clemência.
Com o
jeito-single-de-ser na moda, os imperadores do marketing entraram em
ação. No meu tempo de solitário preferencial, não tive a sorte de ser
contemplado com os mimos atuais das embalagens de uma porção. Comprar comida,
sempre no modelo plus size, era prejuízo à vista. A lasanha murchava no
terceiro dia, a dúzia de ovos durava 40 dias na geladeira com pintos pedindo
pra sair da casca e o queijo branco entrava na estatística de pardos e pretos.
Hoje, a
vida de solteiro é um Paraíso na terra ou um inferninho hipster, a depender da
tribo da solteirice. Há sites facilitando encontros pra quem quiser tirar o pé
do lodo ou desencalhar, pra ser mais claro. Solteiros do Forró, Cristãos
Solteiros e Encalhadas em Desespero são algumas das opções que o leitor pode
conhecer com dois cliques no mouse e muita coragem pra encarar um bailão
risca-faca.
Mesmo com
a tábua do IBGE dando ganho de causa a essa turma, eu sou mais pela prática dos
enforcados na talba de tiro ao álvaro do Adoniran. Casar pode acabar num samba
dos bons, mas quem prefere o tal forró bate-coxa aí de cima é só fazer promessa
pra Santo Antônio, codinome Google.
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