sábado, 17 de agosto de 2013

PORQUE HOJE É SÁBADO...

CRÔNICA DO DIA: SOLTEIROS NA PISTA

Jace Theodoro fala da vida dos que não arrumaram a alma gêmea

JACE THEODORO (JACETHEODORO@UOL.COM.BR)

Eles estão ganhando as tábuas do IBGE com a mesma força que Moisés empunhou a tábua dos 10 Mandamentos. Eles, os que ainda não encontraram a tampa da vasilha de Tupperware perdida no armário, não chuparam a metade da laranja porque detestam sabores cítricos e para quem a cara-metade sempre precisará de uns reparos à Pitanguy. Eles, esses insatisfeitos. Senhoras e senhores, casados e amancebados do Brasil, eu vos apresento os solteiros.

O último Censo revelou que o número de solteiros está na casinha dos 90 milhões, sabe você o que é isso, nobre leitor? Pois uma amiga (Soltinha para os íntimos), solteira desde as caravelas, nega-se a dizer o estado civil ao recenseador. “Casada”, responde com firmeza de quem já fez bodas de diamante, na eterna negação de entrar para a estatística das encalhadas. Se no questionário houvesse a opção pegadora, Soltinha não hesitaria. Solteirona, jamais.

Agora que sabemos que os solteiros no Brasil caíram para 89. 999.999, graças à mentirinha da amiga, vamos a essa turma. Há os que são convictos e não querem amarrar seu burro em nenhuma sombra. Há os que esperam encontrar a alma gêmea, talhada à perfeição, mas não foram avisados que, em terra de sapo, o príncipe foi pro brejo faz tempo.

Solteiros aparentam uma felicidade, diferente daquela da Clarice, nada clandestina. Não ter de avisar a ninguém que você vai à padaria é o céu, pensava com fervor, quando não tinha a quem prestar contas. Era de uma liberdade infinita o simples fato de comprar a bisnaga e o leite sem narrar meu percurso no post it da geladeira.

O fato é que não pertenço mais aos números dos quais Soltinha não quer fazer parte nem que lhe falte o pãozinho de Santo Antônio. Muitos são como ela, cheios de amor pra dar. Se for de papel passado num cartório ou no altar com aliança, buquê e bolo de cinco andares, adeus, vida marvada e solitária. Depois desse rito de passagem, nem no alto verão o cobertor de orelha será dispensado.

Há os que, por outro lado, são atacados pelo bruxismo noturno ao ouvir a palavra casamento. Festas sem hora pra voltar, fins de semana com roteiro traçado ao sabor dos ventos, lavar a louça na hora que der na veneta são seus esportes prediletos. No máximo, um cachorro pra tomar conta. Isto, se o auau encarar suas cuecas e calcinhas jogadas no chão do banheiro. As minhas têm horror desse pesadelo, pedem clemência.

Com o jeito-single-de-ser na moda, os imperadores do marketing  entraram em ação. No meu tempo de solitário preferencial, não tive a sorte de ser contemplado com os mimos atuais das embalagens de uma porção. Comprar comida, sempre no modelo plus size, era prejuízo à vista. A lasanha murchava no terceiro dia, a dúzia de ovos durava 40 dias na geladeira com pintos pedindo pra sair da casca e o queijo branco entrava na estatística de pardos e pretos.

Hoje, a vida de solteiro é um Paraíso na terra ou um inferninho hipster, a depender da tribo da solteirice. Há sites facilitando encontros pra quem quiser tirar o pé do lodo ou desencalhar, pra ser mais claro. Solteiros do Forró, Cristãos Solteiros e Encalhadas em Desespero são algumas das opções que o leitor pode conhecer com dois cliques no mouse e muita coragem pra encarar um bailão risca-faca.

Mesmo com a tábua do IBGE dando ganho de causa a essa turma, eu sou mais pela prática dos enforcados na talba de tiro ao álvaro do Adoniran. Casar pode acabar num samba dos bons, mas quem prefere o tal forró bate-coxa aí de cima é só fazer promessa pra Santo Antônio, codinome Google.


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