IGUALZINHA,
IGUALZINHA
Luis
Fernando Veríssimo
Margô
voltou de Paris com uma bolsa Vuitton. Contou para as amigas o que passara para
comprar sua bolsa Vuitton. Entrara numa fila enorme em frente à loja Vuitton do
Champs Elysées. No frio! Chegara a brigar com uma japonesa ("Ou chinesa,
sei lá") que tentara cortar a sua frente na entrada da loja. Lá dentro,
custara a ser atendida. Uma multidão. Mas finalmente conseguira.
- E aqui está ela - disse Margô, mostrando
a bolsa Vuitton como um troféu.
Foi quando aconteceu uma coisa que a Margô
jamais esperaria. A Belinha mostrou a sua bolsa e disse:
- Igual à minha.
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Houve um silêncio constrangido. Depois que
se recuperou da surpresa, Margô sorriu e perguntou:
- Você também esteve em Paris, querida?
- Estive
- Que inferno, a fila da Vuitton, né?
- Eu não comprei a bolsa na loja da
Vuitton.
- Ah, não? Não foi no Champs Elysées?
- Foi, mas na outra calçada.
- Como?
- Estavam vendendo na rua. Por 19.
O sorriso da Margô desapareceu. Sua bolsa
Vuitton custara exatamente 1.900, na loja.
- Ah. Imitação - disse.
- Mas é igualzinha.
- Igualzinha, igualzinha, não - corrigiu
Margô. - A minha é legítima. A sua é falsa.
Belinha então propôs que todos examinassem
as duas bolsas, para descobrir se havia alguma diferença. Não encontraram
nenhuma.
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À noite, na cama com seu marido Oscar,
Margô ainda estava furiosa.
- Cachorra!
- O que, bem?
- A Belinha. Não precisava ter esfregado a
bolsa de 19 na minha cara.
- Mas ela foi honesta. Poderia dizer que
comprara a bolsa na loja, igual a você. Poderia ter mentido.
- Você não vê? Ela me chamou de otária. De
nova-rica deslumbrada. De, de...
- Calma. Sabe que essa é uma questão
filosófica? - disse Oscar. - Uma imitação perfeita só deixa de ter o mesmo
valor do original quando é descoberta. Dizem que várias obras atribuídas ao
Rembrandt não são dele, são de um falsificador. Mas continuam nos museus,
encantando todo o mundo. Por que estragar o prazer de ver ou ter um Rembrandt,
por um detalhe?
- Oscar, você não está me ajudando.
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Hoje, quando alguém comenta a bolsa da
Margô e pergunta se é Vuitton, ela responde.
- Parece, não é? Mas comprei numa calçada
do Champs Elysées. Por US$ 19!
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