São Francisco de Assis |
O DESPOJAMENTO DAS
VESTES E DOS BENS MATERIAIS
Ao
final de 1206, Pedro Bernardone, convencido de que nem as razões nem a força
podiam torcer o ânimo de Francisco, decidiu recorrer ao Bispo, instaurando-se
um julgamento como nunca aconteceu na história de outro santo. O palco do
julgamento foi a própria Praça Comunal de Assis, junto à igreja de Santa Maria
e à casa do bispo, bem à vista de todos.
Bernardone
exigiu que seu filho lhe devolvesse tudo quanto recebera dele. Francisco sem
vacilar um momento se despojou de tudo até ficar nu, jogou os trajes e o
dinheiro aos pés de seu pai, e exclamou: "Até agora chamei de pai a Pedro
Bernardone. Doravante não terei outro pai, senão o Pai Celeste".
O
Bispo, então, o acolheu, envolvendo-o com seu manto.
Daquele
momento em diante, cantando "Sou o arauto do Grande Rei, Jesus
Cristo", afastou-se de sua família e de seus amigos e entregou-se ao
serviço dos leprosos, tratando de suas feridas, e à reconstrução das Capelas e
Oratórios que cercavam a cidade. Cada dia percorria as ruas mendigando seu pão
e convidando as pessoas para que contribuíssem com pedras e trabalho na
restauração das "Casas de Deus" que estavam em ruínas.
De
alguns recebia apoio e incentivo. De muitos, o desprezo e a zombaria. No
entender da maioria, o filho de Pedro Bernardone havia perdido completamente o
juízo.
Estava
já terminando a restauração da última Igrejinha da redondeza, a capelinha de
Santa Maria dos Anjos e perguntava-se o que faria depois. O que mais lhe
pediria Deus? Não havia entendido ainda que a Igreja que devia restaurar não
era a de pedra, mas a própria Igreja de Cristo, enfraquecida na época pelas divisões,
heresias e pelo apego de seus líderes às riquezas e ao poder.
Devia
ser aquele o ano de 1209. Certo dia, Francisco escutou, durante a missa, a
leitura do Evangelho: tratava-se da passagem em que Cristo instruía seus
Apóstolos sobre o modo de ir pelo mundo, "sem túnicas, sem bastão, sem
sandálias, sem provisões, sem dinheiro no bolso ..." (Lc 9,3). Tais
palavras encontraram eco em seu coração e foram para ele como intensa luz. E
exclamou, cheio de alegria: "É isso precisamente o que eu quero! É isso que
desejo de todo o coração!" E sem demora começou a viver, como o faria em
toda a sua vida, a pura letra do Evangelho. Repetia sempre para si e, mais
tarde, também para seus companheiros: "Nossa regra de vida é viver o
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo"!
A
partir daquele dia, Francisco iniciou sua vida de pregador itinerante,
percorrendo as localidades vizinhas e pregando, em palavras simples, o
Evangelho de Cristo.
Muitos
começaram, enfim, a compreender o sentido dessa vida e manifestaram o desejo de
segui-la.
No ano
de 1210, Francisco e seus seguidores viajaram até Roma para buscar a aprovação
do Papa para o seu modo de vida. Mas como aquele bando de mendigos,
maltrapilhos e desconhecidos seria recebido pelo severo Inocêncio III?
Francisco rezava e confiava. Afinal, não era o próprio Cristo que o estava
conduzindo?
Por
coincidência ou providência divina, encontrava-se em Roma, nessa ocasião, o
Bispo de Assis, grande admirador de Francisco. Graças a ele o Papa os recebeu.
Inocêncio
III ficou maravilhado com o propósito de vida daquele grupo e, especialmente,
com a figura de Francisco, a clareza de sua opção e a firmeza que demonstrava.
Reconheceu nele o homem que há pouco vira em sonho, segurando as colunas da
Igreja de Latrão (a igreja-mãe de todas as Igrejas do mundo!), que ameaçava
ruir. O Papa reconheceu que era o próprio Deus quem inspirava Francisco a viver
radicalmente o Evangelho, trazendo vida nova a toda a Igreja, naquele tempo tão
distanciada dos ensinamentos de Cristo! Por isso deu a seu modo de viver o
Evangelho a aprovação oficial da Igreja. Autorizou Francisco e seus seguidores
a pregar o Evangelho nas igrejas e fora delas e os despediu com sua bênção.
Este fato histórico ocorreu a 16 de Abril de 1210, marcando o nascimento
oficial da Ordem Franciscana.
Ao
voltar de Roma, Francisco e seus companheiros resolveram ficar por uns tempos
em Rivotorto. No lugar de Rivotorto, existia um pequeno casebre, cuja função
era apoiar e dar abrigo aos viajantes que pontualmente passavam por ali.
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