OS 500 E O CREDO
Hélio Passos
De vigaristas estamos cheios. Como se não bastassem os modestos das ruas, com o conto do bilhete premiado, o Brasil, em nome de seu gigantismo criminoso (há as exceções de sempre), estendeu-se e, antes de cair no abismo, envolveu o Executivo, o Judiciário e o Legislativo em escândalos inacreditáveis. O leitor sabe de tudo, e eu não estou aqui para repetecos.
Você conhece a origem da expressão “aí são outros 500”? Um padre teve de viajar e confiou a guarda de 500 reais a um amigo. Dias depois, voltou. Foi receber, e o amigo, fingindo-se espantado, quis saber o quê. “Os 500, cara. Não lembra?” “Endoidou, padre? Que 500?”-- E haja discussão.
Uma católica fervorosa compadeceu-se do vigário e confessou. “Não, não foi ao padre. Foi a mim que você confiou os 500”. – “À senhora? Não, à senhora foram outros 500...”
A propósito, na cidade morava outro padre, culto, genial, de uma preguiça gigante pela própria natureza. Grande orador, um quase Lacerda, só lia Proust, Flaubert, Dostoievski, por aí. Aos domingos, chegava na igreja cheia e perguntava aos fiéis: “Sabeis o Evangelho do dia?” Não, ninguém sabia. E ele, gordo, batina amassada, dava um bocejo e argumentava: “Então não adianta falar do que não sabem. Rezemos o Credo”.
Os fiéis combinaram antão que no próximo domingo todos diriam que sabiam o Evangelho. O padre, sonolento, foi rápido: “Então tão não adianta falar de algo que todos sabem, não é mesmo?” Os fiéis, inconformados, combinaram que no outro domingo uma parte diria que sabia o Evangelho e outra parte diria que não. Desta ele não escapava.
E assim foi. À pergunta do padre, alguns responderam que sabiam e outros que não sabiam. Calmo, o velho padre, puxou o lenço, enxugou o suor da papada e atacou: “Então em peço aos que sabem que ensinem aos que não sabem e estamos conversados... Rezemos o Credo.”
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