CARTA PARA PAPAI NOEL
Clóvis Campêlo
Prezado Papai Noel:
Venho por meio dessas mal traçadas
linhas propor-lhe um acordo. Mesmo que eu não consiga mais gostar do senhor
como fazia quando era pequeno, prometo não mais lhe injuriar ou destratar.
Sei que o senhor não nasceu no Polo
Norte como sempre me fizeram acreditar. Também, nessa altura da vida, não me
interessa mais saber se o senhor é uma invenção da Coca-Cola, da CIA ou do FBI.
Foda-se, essa sopinha de letras. Tampouco me interessa saber se trata bem as
suas renas, poupando-as do excesso de trabalho, alimentando-as corretamente e
levando-as ao veterinário sempre que necessário.
A única coisa que sei e percebo a seu
respeito é que, mesmo sendo uma invenção, o senhor é querido no mundo todo e
reconhecido como o símbolo mercantilista do Natal. Até a China nacionalista se
rendeu e produz imagens suas que vende a preço de banana para o mundo todo. E,
como dizem que a voz do povo é a voz de Deus, sou obrigado a lhe conferir essa
outorga e esse título. Também, admito, sei que já me sinto maduro o suficiente
para não mais alimentar insustentáveis teimosias.
Por outro lado, fico a pensar como o
senhor suporta essa roupa tão quente quando vem ao Nordeste atender aos pedidos
que lhe são feitos. Se no hemisfério norte o Natal acontece no inverno, com
neve, pés de pinheiros e chocolate quente, aqui no Nordeste estamos em pleno
verão e lhe cairia bem melhor um calção vermelho (ou azul) de praia. Proponho
até levá-lo à praia do Pina, aqui no Recife, para tomar uma cervejinha
brasileira estupidamente gelada e degustar um quebradinho de aratu (ou um
sururu de coco). Acho que o senhor esqueceria rapidamente da carne de foca que
se consome no polo norte. Mas isso tudo são conjecturas e já começo a
tergiversar sobre o meu propósito principalmente que é selar a paz entre nós.
Confesso ainda, que apesar de
hostilizá-lo intensamente, sempre admirei o vermelho, o preto e o branco dessa
sua roupa quente, que me lembra o glorioso Santa Cruz Futebol Clube.
É por tudo isso e pelo muito mais do
que se esconde nas entrelinhas dessa cartinha que proponho a paz. Juro, Papai
Noel, que não aguento mais não gostar do senhor.
Recife, 2013
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