Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde |
DEIXA A CÚRIA, PEDRO
Deixa a Cúria, Pedro,
Desmonta o sinédrio e as muralhas,
Ordene que todos os pergaminhos impecáveis
sejam alterados
pelas palavras de vida e amor.
Vamos ao jardim das
plantações de banana,
revestidos e de noite, a qualquer risco,
que ali o Mestre sua o sangue dos pobres.
A túnica/roupa é essa humilde
carne desfigurada,
tantos gritos de crianças sem resposta,
e memória bordada dos mortos anônimos.
Legião de mercenários
assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua
arrogância.
Na bacia arrumada, Pilatos se lava,
legalista e covarde.
O povo é apenas um “resto”,
um resto de esperança.
Não O deixe só entre os guardas e
príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,
É hora de beber o cálice dos pobres
e erguer a Cruz, nua de certezas,
e quebrar a construção – lei e selo – do
túmulo romano,
e amanhecer
a Páscoa.
Diga-lhes, diga-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.
Não
te conturbes mais!
Como você O ama,
ame a nós,
simplesmente,
de igual a igual, irmão.
Dá-nos, com seus sorrisos,
suas novas lágrimas,
o peixe da alegria,
o pão da palavra,
as rosas das brasas…
… a clareza do horizonte livre,
o mar da Galileia,
ecumenicamente, aberto para o mundo.
Pedro Casaldáliga
Pedro, como gosta de ser chamado, traz nas mãos calejadas o anel de tucum. Feito de uma Palmeira da Amazônia, marca a aliança com os oprimidos. Foto: Ana Helena Tavares |
Poema
de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da prelazia de São Félix do Araguaia, para reflexão
pós-renúncia do papa.
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