Elisa Lucinda
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DAI A DEUS O QUE É DE DEUS
Elisa
Lucinda
Não foi ninguém
que me contou. Conheci um grande artista plástico italiano em Portugal no ano
passado. Ele me presenteou uns óculos cravejados de cristais Swarovski e disse
que tinha uma encomenda de um tapete com mil e oitocentos cristais daqueles.
Quem encomendaria um tapete de cristais. Na lata ele me respondeu, o Vaticano.
Fiquei chocada: quem paga? O Banco do Vaticano, ele me respondeu. Fiquei
estarrecida, já acho muito carregada a roupa dos padres, muito parecida com a
dos reis. Mas, tapete de cristal eu acho que pode ser um emblema do que
significa uma igreja com tantos representantes homossexuais. Combina.
Vale aqui dizer que eu não acho nada demais ser
gay, não sou moralista com homossexualidade. Mas não admito hipocrisia. De
todos os pedófilos, o pior é o pedófilo padre, pastor, pretenso missionário de
Deus. É o lobo que usa proteção de sua falsa pele de cordeiro para enganar e
atacar a sua vítima, empoderada da superioridade subjetiva, ancorada na fé e
contando com o desespero da miséria existencial humana, muitas vezes a igreja
se vale dessa sua autoridade para ferir os princípios de Jesus Cristo, ou então
realmente entendeu mal o “Vinde a mim as criancinhas”.
Estudei em colégio de freiras e não vão me
convencer, por isso volto a perguntar: Por que é que uma igreja precisa de um
banco? Que templo é esse com direito a forças políticas, cofres, corrupção,
traição, ouro e ligações com a prostituição? O que é que Jesus Cristo tem com
isso? Como em nome de Deus se consegue se desvirtuar tanto dele? Uma católica
me disse que essa igreja é muito atacada, e eu fiquei me lembrando da Santa
Inquisição, do Papa pedindo perdão por esse péssimo passado e me veio na cabeça
o fato de que muitas vítimas do santo ofício eram condenadas e queimadas vivas
por praticarem sodomia, séculos depois a mesma igreja tem seus advogados para
calar a boca das vítimas de suas secretas sodomias.
A coisa é tão maluca, porque é ela que proíbe que
os padres se casem, proíbe que sejam homossexuais e não recebe de braços
abertos os fiéis gays, porque a mesma igreja afirma que é uma doença a
homossexualidade. E cria-se esse grande teatro onde ninguém sabe exatamente o
que se passa dentro do interior dos conventos, dos mosteiros, e igrejas com
seus escritórios, assessores e coroinhas. Não é permitido aos sacerdotes amar,
é proibido o desejo. Só que isso não se tira de um ser humano, é vital como as
outras funções. Daí, talvez as tão absurdas autopunições e sacrifícios onde o
corpo é punido pela vida que dele pulsa.
Conheço religiosos maravilhosos, bons pensadores,
apaixonados pelo ser humano e que mereciam amar uma mulher ou um homem. É um
direito divino. E conheço grandes filósofos e benfeitores da vida social que
gostariam de ser padres, e não o foram porque “amar é pecado”.
Nesse momento de conclave, ou seja, com chave, não
se sintam magoados os católicos e outros religiosos. Estou apenas tentando
entender como a igreja de Pedro, aquele pescador, de barba, simples, se
transformou nesse templo de ouro e perversão. Não vejo nenhum Papa simples,
barbado, humano, nem sei se verei algum Papa preto. (Me falaram para eu
desistir, pois quando houver um Papa preto não será Papa, será Tutu). Tenho
refletido muito sobre fé e dinheiro. Sempre quando eu rezo, nunca peço
dinheiro, eu peço saúde, força, pão, clareza, trabalho e mais bondade no meu
coração. Deus não é exatamente o cara para resolver negócio de dinheiro.
Nesse momento, está aí na internet para quem quiser
ver o show, o leilão das almas, do pastor deputado Marco Feliciano, ministrando
um culto onde o assunto não é o evangelho, é cartão de crédito, senha, cheque
pré-datado. Do outro lado, quem assina o cheque é a ignorância, a ingenuidade e
o desespero de quem sofre sem esclarecimento. Não gosto de ver injustiça,
exploração, maus tratos de criança, pedofilia e corrupção. Aconteçam essas em
Brasília, em qualquer prefeitura do país, numa igreja, num templo, num
terreiro. Não importa, sou contra, estou ao lado das criancinhas. Pra onde
caminhamos? Isso parece mais a preparação do apocalipse do que de um final feliz
para a humanidade. A princípio, somos todos filhos de Deus e a
institucionalização da fé arranjou um modo de ganhar dinheiro com isso. Menos o
meu. Dou a Deus o que é de Deus.
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