segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A TEORIA DA PIA SUJA




René Descarte
 René Descarte revolucionou a ciência ao propor um novo método científico. O método de Descartes chamou-se - muito apropriadamente aliás - de método cartesiano. Assim, ele instaurou regras que guiaram a ciência com mais rigor em busca da “verdade”. (Verdades provisórias, pelo menos). A base era, de forma simplificada, algo assim: Duvide de tudo! Não aceite nenhuma resposta sem duvidar dela, sem pesquisar direito. Assim, duvidando de tudo, René começou a duvidar de sua própria existência. “Je sui René?” Mas logo solucionou o problema: “Penso, logo, existo”. O que, convenhamos, não é grande vantagem pois as pedras – até onde sabemos – não pensam, mas existem do mesmo jeito. Mas quem sou eu para criticar um colega tão ilustre?

Immanuel Kant, também inventou um sistema filosófico interessante. Resumidamente, o pensamento filosófico deveria passar por três estágios: tese, antítese e síntese. Parece complicado, e é. Ou não é. Depende do quanto você já estudou sobre filosofia e Kant. É algo relativo.

Por falar em relatividade, Einstein também deixou uma lição. A lição de que... meus amigos, tudo é relativo. Depende sempre do ponto de vista, ou do referencial que temos.

Einstein
Muito bem, mas Einstein viveu em meados do século XX. Nós já estamos no século XXI. Então eu, Caroline Knüpfer, digo que já está mais do que na hora de pensarmos em uma nova teoria filosófico-científica, capaz de guiar os passos da nossa trôpega humanidade para o alto e além! (Como já dizia um super herói). Se não for guiar a humanidade para o alto e além, que pelo menos evite o abismo, ou desacelere o ritmo da escavação da nossa civilização na areia movediça da intolerância, da pobreza e do esgotamento ambiental. E quem sabe, com algum otimismo, até melhore a culinária inglesa.

Deixo aqui a modéstia de lado e ouso anunciar meu método filosófico. Os “grandes” sábios do mundo muito provavelmente se surpreenderão e rirão de minhas teses. Sentados em laboratórios, escritórios e bibliotecas de todo o mundo, criando teses que versam sobre a pronúncia das vogais tônicas nas ilhas de Cabo Verde ou sobre a reprodução da minhoca branca de Belize. Com suas barrigas e cérebros repletos de citações. Pois que riam! Van Gogh não vendeu nenhum quadro em vida, cortou até mesmo uma orelha como golpe de marketing e nada adiantou para que os olhares conservadores e embotados se voltassem para seus quadros. Hoje é considerado um gênio! Já anuncio que não tenho a intenção de cortar nenhuma de minhas orelhas. Gosto muito delas. Minha mãe diz que são bonitinhas. Além disso confesso que me repugna a idéia da dor. Sim, meus amigos, a vida já é suficientemente dolorosa para que eu ainda me disponha a decepar uma orelha a fim de conseguir atenção para minha teoria filosófica. Também não me agrada a idéia das manchetes: “Filósofa tem crise de nervos, decepa uma orelha e diz que vai mudar o mundo”. Não, não seria algo produtivo. Além disso, sei que os grandes mestres saberão reconhecer o valor de minha obra.

Immanuel Kant
Vamos a ela! A teoria tem base nos três autores anteriormente citados: Descartes, Kant e Einstein. Mas 90% de tudo foi idéia minha, hein? É difícil, complexo, tentar explicar a profundidade de meus pensamentos.

Terei que dar um exemplo prático. Falarei sobre como elaborei a teoria. Foi de uma maneira muito prosaica. Lembram do Newton? Caiu uma maçã na cabeça dele e ele teve um insight! Ele “inventou” a lei da gravidade. Tipo... básico do básico. A gravidade estava lá o tempo todo, na cara de todo mundo. Mas ninguém tinha se tocado ainda. Até o dia em que a maçã caiu na cabeça do Newton.

Mas vocês não podem dizer que a lei da gravidade foi mérito da maçã. Foi mérito do Newton pois maçãs sempre caíram na cabeça de pessoas desde a mais remota Antigüidade, e nem por isso alguém mencionou algo com relação à lei que impede que a gente saia voando pelo espaço ou caia pra cima. Provavelmente, Aristóteles e Sócrates e Hipócrates já tiraram um cochilo debaixo de alguma macieira e nunca deu em nada!

Desde a Antigüidade as pessoas lavam louça. Sim, gregos e romanos, egípcios e astecas já tinham que lavar a louça após o almoço e o jantar. Só os homens das cavernas não lavavam louça. (Eram atrasados, não tinham essa tecnologia, comiam os bifes de brontosauro com as mãos mesmo.) É por isso que eu digo que lavar a louça é um indício do quão avançada é uma civilização. Mas isso é outra teoria. O que eu queria dizer agora é que as pessoas sempre lavaram louça – e nunca desenvolveram essa teoria, apesar de estar diante de seus narizes todos os dias. Ninguém falou da lei da gravidade antes de Newton, apesar de muitos sábios terem dormido debaixo de macieiras, laranjeiras e jabuticabeiras por milhares de anos.

Caroline Knupfer
Então a teoria da pia é relativamente (relativamente) simples em sua enunciação. Como foi que a desenvolvi? Bem, eu estava diante de uma pia muito bagunçada esses dias: lixo, pratos sujos, muito, muito lixo... (Quando digo que estava muito bagunçada, é um eufemismo). Então passei a organizar tudo. Antes de lavar o primeiro copo eu tirei todo o lixo e mandei para a reciclagem, separando do lixo orgânico. Depois organizei copos com copos, pratos com pratos e assim por diante. Eu não havia lavado nenhum copo sequer, e já havia outro aspecto naquela pia. Depois é que lavei e sequei toda a louça, guardei e limpei o restante da cozinha. O resultado foi magnífico. Mas o melhor de tudo foi o momento em que a maçã caiu na minha cabeça, isto é, quando desenvolvi a teoria da pia!

A teoria da pia diz que se você primeiro tirar o lixo e organizar, tudo fica mais fácil. Apliquei a teoria da pia às minhas pastas do colégio. Fenomenal! Retirados os papéis velhos e toda a cacaiada que tinha lá dentro, comprei clips de papel e separei tudo por data, trabalho, conteúdo. Corrigir tudo depois, tornou-se infinitamente mais fácil.

Acredito que a Teoria da Pia é perfeitamente aplicável à administração das cidades, à medicina, à engenharia, ao direito, à odontologia e à política, além de inúmeras outras aplicações. (Citei apenas as mais óbvias).

A reurbanização de uma favela só pode ser realizada mediante a Teoria da Pia! Veja bem: joga-se o lixo fora, organiza-se os planos de ação que integrem o meio ambiente, a qualidade de vida e a integração social das comunidades, e depois parte-se efetivamente para a ação. Simples e genial. Aplicável em todos os campos do conhecimento humano

Creio que doarei grande parte do Prêmio Nobel de Medicina para obras assistenciais e para as pesquisas da cura do câncer. O Prêmio Nobel de Economia poderá patrocinar a construção de um centro cultural.

Obrigada,
Obrigada,


Caroline Knupfer – criadora da Teoria da Pia


02/09/2006


Fonte: http://caroline_euzinha2.zip.net/

Nenhum comentário: