segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
domingo, 27 de fevereiro de 2011
PONTES IMPLODIDAS
Li ontem num blog, neste endereço http://migre.me/3XpIU, uma metáfora que o blogueiro fez, usando a figura de uma ponte, sobre as decisões que devemos tomar na vida em decorrência de fatos que nos acontecem e que, tomada a decisão, ela não tem volta. Concordo com ele.
Recentemente, mais precisamente no mês de novembro passado, detonei uma ponte que me ligava a uma pessoa porque descobri que essa pessoa tinha mais “duas pontes” iguais a que tinha comigo. Isso sem contar que pode até haver mais “pontes” das quais não tenho conhecimento.
Três anos atrás eu já havia detonado essa ponte, mas, por pedidos da pessoa em questão, para que lhe fosse dada nova chance, eu a reconstruí. Claro que a reconstrução não podia ser perfeita e ficaram rachaduras, grandes, que abalaram a estrutura da ponte, mas, mesmo assim ela serviu e seguimos em frente. Eu na esperança de que o pedido de nova chance fosse decentemente cumprido, o que não aconteceu. A pessoa, certamente, achando que eu fecharia os olhos e aceitaria nova recaída, o que também não aconteceu.
O fato é que agora detonei de vez essa ponte, sem dó nem piedade, com uma carga enorme de TNT! De quebra, ainda espalhei um pouco do TNT nas “outras duas pontes”. O que aconteceu com elas não sei nem quero saber. Penso que devem ter ficado com as estruturas um pouco abaladas, mas isso não é problema meu. Fiz a minha parte ao mostrar que aquelas “pontes”, como a minha, estavam construídas em cima de mentiras e deslealdade. O resto não é comigo!
Hoje olho para o local onde a minha ponte estava e não vejo mais nada, pois TODOS os escombros foram minuciosamente removidos. E como não vejo mais a ponte, também não vejo do outro lado, a pessoa à qual ela me ligava. Sumiu! Está invisível! Transparente!
E assim a vida segue. E a minha vida está ótima! Esses atropelos que aparecem pelo caminho, fazem parte. Eu vou tirando os que posso, como tirei a ponte. Os que não posso tirar, vou contornando e seguindo em frente. Essa é a ordem natural das coisas.
Fátima Vieira
PRESENTE DE DOMINGO...
TODAS AS VIDAS
Cora Coralina
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho,
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos.
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera
das obscuras.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
PORQUE HOJE É SÁBADO...
MINGA, ZÓIO DE PRATA
Cora Coralina
Eram elas as senhoras-donas, ali no beco do Calabrote.
Quem transitasse pelo beco, tivesse cuidado... Passasse quieto e bonzinho. Não se engraçasse nem fizesse cara de pouco. E quem fosse de entrar, empurrasse a porta de dentro, com fala curta e dinheiro pronto. Escândalo de mulher-dama não dava; nunca deu; também, nunca foram levadas, como tantas, para capinar na frente da cadeia. Família de respeito podia passar toda hora, não via nada. Macho, porém, que não se fizesse de besta... Eram donas e autoridade no beco. O beco era delas. E tinham prestígio.
Duas irmãs, morando juntas na mesma casa, de porta e janela aberta aos homens que quisessem entrar; isso a Zóio de Prata. Já a Dondoca, tinha seu homem e era pontual a ele só.
Também eram conhecidas por As Cômodas, na roda da macheza. Minga era durona. Não tretasse com ela, saindo sem deixar a taxa... Um que tentou a rasteira, ela alcançou já fora do beco e deixou sem as calças no meio da rua.
Tinha mesmo um bugalho branco, saltado, e era vesga do outro. Espinhenta, de cabelo sarará, mulatona encorpada, de bacia estreita, peito masculino, de mamilos duros, musculosa; servindo bem no ofício, de fala curta, braço forte, mãos grandes.
Um dia, voltava ela do mercado com um frango na mão, deu de cara com a irmã chorando, de cara amassada e beiço partido. Tinha entrado na peia do amigo — o Izé da Bina — à-toa, ruindade de pingado ordinário. Dei'stá — disse ela — sai fora e deixa por minha conta. Óia, vai depená esse frango pra nóis na casa da vizinha e só entra quando eu chamá...
Dondoca foi fazer o mandado. Estava ela na casa da vizinha depenando o frango, quando chegou o Izé da Bina, todo mandante, de paletó preto, gravata borboleta, calça engomada.
Entrou no quarto e gritou autoritário pela Dondoca. Quem apareceu foi a Zóio de Prata, de manga arregaçada e porrete na mão. Atirou-se no mulato com vontade e foi porretada de direita e canhota. Bateu com sustância, sovou com fôlego, quebrou as carnes, moeu bem moído. No fim, jogou fora o cacete e entrou de corpo. Numa boa sobarbada deu com o crioulo no chão. Sentou em cima e esmurrou à vontade. Quebrou as ventas, partiu dois dentes, entrou no olho... xingou nomes... desses de ouvindo dizer o Antônio Meiaquarta, tipo de rua, rei dos bocas-sujas da cidade: eu sei dois contos e quinhentos de nomes indecentes... Zóio de Prata sabe cinco contos... apanhei dela, bateu em mim... tou descarado, apanhei dela... muié praceada... êta muié sagais.
Depois de ver o cabra mole, estirado, fungando, Zóio de Prata assungou a saia, abriu as pernas e mijou na cara de Izé da Bina.
Estava vingada a Dondoca e consolidada a fama das Cômodas.
O texto acima foi extraído do livro "Estórias da Casa Velha da Ponte", Global Editora - São Paulo, 1988, pág.13.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
EU ODEIO O BBB - II
LUTAR CONTRA O BBB
Mote: Ismael Gaião
Glosas: Adeval Soares (Tabira-PE)
Quem gostar de baixaria
Ou fizer papel de bobo
Pra ser um refém da Globo
No prêmio da putaria,
Ligue a Tv todo dia
Entre nesse cabaré
Porque dela você é
O que ela quer de você.
Lutar contra o BBB
É remar contra a maré.
A Globo junta milhões
Em uma noite somente
Porque ainda tem gente
Que cai nessas tentações.
São milhões de ligações
De gente alta ou ralé
Que faz prece e ora até
Nas mentiras da TV
Lutar contra o BBB
É remar contra a maré.
Escutar Pedro Bial
Com sua vil babaquice
Cara de pau e chatice,
Seu mau humor imoral
Tem que ser ator global
Do programinha “balé”
Para estar na marcha ré
Da cultura que não lê
Lutar contra o BBB
É remar contra a maré.
Esse programa insinua
A exposição do sexo
De mulher que sem complexo
Tira a roupa e fica nua.
Expondo a matéria sua
Da cabeça até o pé
Pra mostrar quem ela é
Atrás de ganhar cachê.
Lutar contra o BBB
É remar contra a maré.
Um cidadão de respeito
A sua Tv não liga
Pra ver safadeza e briga,
Falsidade e preconceito.
Mulher mostrando o seu peito
Barriga, cintura e pé,
E outra peça que até
Leva o “cara” ao ponto G.
Lutar contra o BBB
É lutar contra a maré.
Se essa nossa educação
Fosse mais levada a sério
Havia um outro critério
Pra se ver televisão
A vil banalização
Que da vergonha é chulé
Morria no pontapé,
Murro, tapa ou caratê.
Lutar contra o BBB
É luta contra a maré.
Esqueça a sua cultura
Não dê crença a hóstia santa,
Não valorize que canta
Música que tem letra pura.
Não acredite na cura
Do Cristo de Nazaré
Se você só bota fé
Na programação que vê.
Lutar contra o BBB
É remar contra a maré.
Se a justiça é omissa
Como todo mundo sabe
É ao cidadão que cabe
Fazer a própria justiça.
Ligar Tv só na missa,
Do Papa, na Santa Sé,
Se não for mais um Mané
A Globo muda a turnê.
Lutar contra o BBB
É remar contra a maré.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
EU NÃO VOU MORAR NO CÉU
Quando eu chegar ao céu não terei mais maldade
Nenhuma saudade para lacrimejar
Nem aplausos a quem vejo me ganhar
Viverei sem medos...
Quando eu chegar ao céu não verei filmes de terror
Nenhum suor vitorioso para transpirar
Nem minutos de preguiça ao acordar
Viverei sem sonhos...
Quando eu chegar ao céu não terei mais dilemas
Nenhum cinema e frio na barriga ao beijar
Nem pensamento erótico ao deitar
Viverei sem manias...
Quando eu chegar ao céu não terei tanta ousadia
Nenhuma ironia para me deliciar
Nem países exóticos para aventurar
Viverei sem desafios...
Mas quem sou eu sem meus medos, sonhos, manias e desafios?
Quem sou eu sem os defeitos deste mundo?
O que me restaria?
Eu ainda me seria?
Que tipo de eu tão diferente de mim habitará no céu?
Quem me reconheceria?
Não
Aquele não será eu
Eu não vou morar no céu
Que meu futuro-eu desconsidere estas palavras...!
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
LIBERDADE
Paul Éluard
Nos meus cadernos de escola
no banco dela e nas árvores
e na areia e na neve
escrevo o teu nome
Em todas as folhas lidas
nas folhas todas em branco
pedra sangue papel cinza
escrevo o teu nome
Nas imagens todas de ouro
e nas armas dos guerreiros
nas coroas dos monarcas
escrevo o teu nome
Nas selvas e nos desertos
nos ninhos e nas giestas
no eco da minha infância
escrevo o teu nome
Nas maravilhas das noites
no pão branco das manhãs
nas estações namoradas
escrevo o teu nome
Nos meus farrapos de azul
no charco sol bolorento
no lago da lua viva
escrevo o teu nome
Nos campos e no horizonte
nas asas dos passarinhos
e no moinho das sombras
escrevo o teu nome
No bafejar das auroras
no oceano dos navios
e na montanha demente
escrevo o teu nome
Na espuma fina das nuvens
no suor do temporal
na chuva espessa apagada
escrevo o teu nome
Nas formas mais cintilantes
nos sinos todos das cores
na verdade do que é físico
escrevo o teu nome
Nos caminhos despertados
nas estradas desdobradas
nas praças que se transbordam
escrevo o teu nome
No candeeiro que se acende
no candeeiro que se apaga
nas minhas casas bem juntas
escrevo o teu nome
No fruto cortado em dois
do meu espelho e do meu quarto
na cama concha vazia
escrevo o teu nome
No meu cão guloso e terno
nas suas orelhas tesas
na sua pata desastrada
escrevo o teu nome
No trampolim desta porta
nos objetos familiares
na onda do lume bento
escrevo o teu nome
Na carne toda rendida
na fronte dos meus amigos
em cada mão que se estende
escrevo o teu nome
Na vidraça das surpresas
nos lábios todos atentos
muito acima do silêncio
escrevo o teu nome
Nos refúgios destruídos
nos meus faróis arruinados
nas paredes do meu tédio
escrevo o teu nome
Na ausência sem desejos
na desnuda solidão
nos degraus mesmos da morte
escrevo o teu nome
Na saúde rediviva
aos riscos desaparecidos
no esperar sem saudade
escrevo o teu nome
Pelo poder duma palavra
recomeço a minha vida
nasci para conhecer-te
nomear-te
liberdade.
Traduzido por Jorge de Sena
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
A terceira morte de Vladimir Herzog
Reproduzo artigo de Ricardo Kotscho, publicado no blog Balaio do Kotscho:
Pense num absurdo, em algo totalmente inverossímel, num completo desrespeito aos que querem contar a nossa história e à memória de quem tombou na luta pela redemocratização do país.
Pois foi isso que sentiu na pele esta semana o jornalista Audálio Dantas ao procurar o Arquivo Nacional, em Brasília, para poder finalizar o livro que está escrevendo sobre o seu colega Vladimir Herzog, o Vlado, torturado e morto nos porões do DOI-CODI durante a ditadura militar (1964-1985).
Vlado já tinha sofrido duas mortes anteriores: o assassinato propriamente dito por agentes do Estado quando estava preso e o IPM (Inquérito Policial Militar) que responsabilizou Vlado pela sua própria morte, concluindo pelo suicídio.
Esta semana, pode-se dizer que, por sua omissão, o Ministério da Justiça, agora responsável pelo Arquivo Nacional, matou Vladimir Herzog pela terceira vez, impedindo o acesso à sua história.
Muitos dos que foram perseguidos naquela época, presos e torturados, estão hoje no governo central, mas nem todos que chegaram ao poder têm consciência e sensibilidade para exercer o papel que lhes coube pelo destino.
É este, com certeza, o caso de Flávio Caetano, um sujeito que não conheço, chefe de gabinete do ministro da Justiça, meu velho ex-amigo José Eduardo Cardozo, por quem eu tinha muito respeito.
Digo ex-amigo pelos fatos acontecidos ao longo da última semana, que relatarei a seguir.
Na segunda-feira, Audalio Dantas me contou as dificuldades que estava encontrando para pesquisar documentos sobre o antigo Serviço Nacional de Informações (o famigerado SNI) no Arquivo Nacional, e pediu ajuda para falar com alguém no Ministério da Justiça.
Explique-se: um dos primeiros decretos baixados pela presidente Dilma Rousseff, o de nº 7430, de 17 de janeiro de 2011, determina a transferência do Arquivo Nacional e do Conselho Nacional de Arquivos da Casa Civil da Presidência da República para o Ministério da Justiça.
Por se tratar de quem se trata, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na época do crime praticado contra Vlado, o primeiro a denunciar o assassinato, profissional dos mais premiados e respeitados do país, com 57 anos de carreira - provavelmente mais do que os nobres Cardozo e Caetano têm de idade -, encaminhei a Audálio o telefone do gabinete do ministro da Justiça.
E lhe recomendei que falasse diretamente com José Eduardo Cardozo, explicando a ele as absurdas dificuldades que estava encontrando no Arquivo Nacional para fazer o seu trabalho.
Foi muita ingenuidade minha, claro. A secretária de nome Rose, certamente sem ter a menor idéia de quem é Audálio Dantas e de quem foi Vladimir Herzog, informou que o chefe de gabinete, Flávio Caetano, estava “em reunião com o ministro”, garantindo que entraria em contato mais tarde.
Até aí, faz parte do jogo. Chefe de gabinete é para isso mesmo. Serve para fazer a triagem das demandas que chegam ao ministro, e não devem ser poucas.
“Deixar sem resposta mais de dez telefonemas, no caso de qualquer cidadão, não caracteriza apenas desleixo ou arrogância, mas falta de educação”, desabafa Audálio, com toda razão.
Pelo jeito, Flávio Caetano anda muito ocupado ou também nunca ouviu falar de Audálio e Herzog. Sem conseguir ser atendido por telefone pela excelência maior nem pelo seu chefe de gabinete, o jornalista-escritor resolveu encaminhar este e-mail ao Ministério da Justiça:
“Prezado Senhor Flávio Caetano
Provavelmente o senhor não me conhece, por isso apresento-me: sou Audálio Dantas, jornalista, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e da Federação Nacional dos Jornalistas, ex-deputado federal. Tentei vários contatos telefônicos com o senhor, sem resultado. Por isso envio-lhe esta mensagem.
Estou concluindo (com prazo para entregar à Editora Record) livro sobre o Caso Herzog, do qual fui parte. Necessitando de informações sobre o assunto, procurei, no último dia 10, o Arquivo Nacional _ Coordenação Regional de Brasília, que mantém a guarda dos papéis do Serviço Nacional de Informações. Depois de me identificar, preenchi fichas de solicitação, tomando o cuidado de acrescentar informações adicionais sobre o caso, hoje referência histórica.
Como dispunha apenas de uma cópia de procuração que foi dada pela viúva de Herzog, Clarice, datada de agosto de 2010, disseram-me que era necessário documento original, com data mais recente. Já estava para buscar outra procuração quando recebi (dia 14/02) ofício em que se exige, além da procuração:
- Certidão de óbito de Vladimir Herzog
-Certidão de casamento
Considero que, em se tratando de caso histórico, de amplo conhecimento, e quando se sabe que a União foi responsabilizada na Justiça pelo assassinato de Herzog, tais exigências são absurdas e até desrespeitosas. Que atestado de óbito terá a viúva para mostrar? O que foi lavrado com base no laudo do médico Harry Shibata, que servia ao DOI-CODI e confessou tê-lo assinado sem ver o corpo? E que certidão de casamento terá Clarice Herzog juntado à ação que impetrou contra a União pela morte do marido?
E se a pesquisa fosse sobre o ex-deputado Rubens Paiva, quem forneceria o atestado de óbito? Desse jeito, ninguém conseguirá saber sobre ele no Arquivo Nacional.
Gostaria de discutir mais a questão que envolve, parece, deliberada dificultação de pesquisa. Ou, no mínimo, desconhecimento histórico por parte desse órgão público.
Faço questão que essas informações cheguem ao conhecimento do ministro José Eduardo Cardozo, que deve conhecer minha história.
No aguardo de uma resposta,
Atenciosamente,
Audálio Dantas”.
No momento em que escrevo este texto, no final da tarde de sábado, dia 19/02, Audálio continua esperando uma resposta. Na melhor das hipóteses, suas informações não chegaram às mãos do ministro José Eduardo Cardozo. Não tenho como saber porque também não consegui falar com o ministro.
Na sexta-feira à tarde, depois de ler o e-mail acima que Audálio enviou ao chefe de gabinete, sem receber retorno, liguei para o gabinete do ministro. A secretária que atendeu já ia me despachando direto para a assessoria de imprensa do ministério. Fui bem educado ao lhe explicar:
“Minha senhora, eu não quero entrevistar o ministro. Eu preciso falar com ele pessoalmente sobre um caso grave e urgente do qual ele deve tomar conhecimento”.
Só aí ela permitiu que eu soletrasse meu sobrenome, respondeu-me que sabia quem eu era, pediu os números dos meus telefones e, imaginei, cuidou de passar a ligação para o ministro. Minutos de silêncio depois, a secretária voltou para me dizer, sem muita convicção, que o ministro estava ocupado e me ligaria em seguida. Também estou esperando até agora.
Na hierarquia da falta de respeito pela própria função que exerce, o menos responsável nesta história é o funcionário de nome Raines, que se apresentou como historiador ao atender (ou melhor, deixou de atender) Audálio Dantas.
A sua superiora, Maria Esperança de Resende, coordenadora-geral da Coordenação Regional do Arquivo Nacional no Distrito Federal, é quem assina o absurdo pedido de documentos. Alguém superior a ela a colocou lá sem perguntar se as suas qualificações eram adequadas ao seu pomposo cargo no comando do Arquivo Nacional.
Talvez o jeito mais simples e barato de resolver este problema seja baixar outro decreto presidencial e devolver o Arquivo Nacional à Casa Civil da Presidência da República, como era antes, já que o Ministério da Justiça não parece muito interessado no assunto nem preocupado com o seu funcionamento.
Das duas uma: ou Cardoso está muito mal assessorado ou não entendeu ainda quais são os seus compromissos e responsabilidades no Ministério da Justiça do governo de Dilma Rousseff, a presidente da República que, ao contrário de Vladimir Herzog, conseguiu sobreviver às torturas na ditadura militar.
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