27/01 - Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto |
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
domingo, 26 de janeiro de 2014
PRESENTE DE DOMINGO...
Praça da Sé
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SONETO SENTIMENTAL À
CIDADE DE SÃO PAULO
Vinicius de Moraes
Ó cidade tão lírica e tão
fria!
Mercenária, que importa - basta! - importa
Que à noite, quando te repousas morta
Lenta e cruel te envolve uma agonia
Que à noite, quando te repousas morta
Lenta e cruel te envolve uma agonia
Não te amo à luz plácida do
dia
Amo-te quando a neblina te transporta
Nesse momento, amante, abres-me a porta
E eu te possuo nua e fugidia.
Amo-te quando a neblina te transporta
Nesse momento, amante, abres-me a porta
E eu te possuo nua e fugidia.
Sinto como a tua íris
fosforeja
Entre um poema, um riso e uma cerveja
E que mal há se o lar onde se espera
Entre um poema, um riso e uma cerveja
E que mal há se o lar onde se espera
Traz saudade de alguma
Baviera
Se a poesia é tua, e em cada mesa
Há um pecador morrendo de beleza?
Se a poesia é tua, e em cada mesa
Há um pecador morrendo de beleza?
sábado, 25 de janeiro de 2014
PORQUE HOJE É SÁBADO...
Estação da Luz
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São Paulo 460
anos. Cada esquina, cada lugar, uma história
Roberto Grassi
Eu estava ali memorizando, na lista de lugares
marcantes desta cidade cosmopolita de São Paulo, e não poderia deixar de citar
primordialmente a minha querida Estação da Luz, onde passei alguns anos de
minha infância, acompanhando o meu velho pai que trabalhou no telégrafo Morse,
durante quarenta anos corridos (1915 a 1955).
Outro ponto de referência era o passeio pelo
Mercadão, na Rua da Cantareira, quando no meu tempo de juventude não havia
ainda o famoso sanduíche de pão com mortadela. Havia apenas os boxes dos
vendedores de peixes, das mercearias, dos hortifrutigranjeiros que distribuíam
suas mercadorias para os vários bairros de São Paulo.
Das suas ruas transversais, lembrei-me dos
retalhistas atacadistas de gêneros alimentícios, nas tardes ensolaradas da Rua
Santa Rosa, onde se podia sentir no ar o cheiro poeirento de aniagem e das
réstias de cebolas. Observava-se também, carroções e caminhões carregando e
descarregando as sacas de feijão, arroz, milho, batatas e outros cereais. Era
uma rua longa, toda feita de armazéns gerais, repletos de réstias de cebolas e
alho, dependuradas nas vigas de madeira sobre as paredes de cal esponjadas.
Vou caminhando também, em um declínio de tarde,
pelo Largo do Cambuci; desço o vale espremido da Rua Luiz Gama, até o
cruzamento com a Avenida do Estado. Vejo através daqueles cerros baldios
algumas cabras pastando ao longo do Rio Tamanduateí. Ali é um pedaço da Várzea
do Carmo que, costumeiramente, é inundado pelas enchentes do Rio Tamanduateí.
Mais a frente, próximo ao parque Dom Pedro II, no fim da Rua Tabatinguera,
havia o 4º regimento da 2º região militar, o quartel do G. Can. Au. Ae. 45
(Segundo Grupamento de Canhões Automáticos Antiaéreos 45 milímetros), onde em
1955 fiz o serviço militar.
Rezava antigamente a lenda que o prédio ali
existente teria sido originalmente um presente do imperador Dom Pedro I à
Marquesa de Santos, para promover encontros amorosos e mais tarde o local
abrigaria a sede do Seminário das Educandas e depois o do Hospício de Alienados
e, a partir da década de 1930, tinha sido tomado pelo comando militar do 2º
exército.
Mas continuamos caminhando por essas esquinas e
recantos de São Paulo. Detenho-me na esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida
São João, no tradicional bar do “Jéca”. Era famoso nos anos 50 até 60. Ali era
o coração, a alma boemia da São Paulo antiga, onde todos os sábados e domingos
à noite havia uma concentração de músicos das casas de shows noturnas da
Avenida Ipiranga, da Rua dos Timbiras, da Avenida Rio Branco, da Conselheiro
Nébias, com seus inferninhos, da Rua dos Gusmões, da Rua Aurora, com seus bares
baratos da boca do lixo. Havia também o circuito da Cinelândia, com seus
cinemas majestosos, Marabá e Ipiranga, mais abaixo o luxuoso Cine Art-Palácio,
Cine Marrocos e Olido, República, Metro, Coral, Jussara, Rivoli e muitos
outros.
Ali naquela esquina mágica, pulsava o coração
paulistano. Dos restaurantes e das casas de lanches, como a Salada Paulista, a
Kibelândia, a Confeitaria Vienense, o Café Mocambo, a Casa do Sopão, do
Gigetto, o Bar Brahma na esquina da Ipiranga com a São João, a Padaria Ayrosa,
na esquina da São João com a Conselheiro Crispiniano, do famoso Ponto Chic que
abrigava no Largo do Paissandu, a fina flor da sociedade paulistana. Na esquina
da Rua dos Timbiras, era o encontro dos boêmios de plantão. No bar do espanhol,
ao lado do Cine Metro, era a reunião dos amigos da noite. Kito, Fernando,
Ismael, Hélio Souto, Jean Levi, Glauco, Milton Lozano, Claudio Toscano, Magro,
Dungão, Zé Janeiro, Zé Maria, Acácio, Zé Duarte, Henrique, Natali, e também
algumas vedetes do teatro Natal.
Ascendo um cigarro em frente ao Teatro Municipal. O
fósforo riscado já faz um efeito na noite quente. Estou em um largo arejado,
todo cinzento, de calçamento novo. Praça Dom José Gaspar. Aqui respiro São
Paulo. São Paulo todo espetado de pontas, São Paulo crescido para o alto, de
andares sobre andares do Edifício Itália. Aqui de cima, no último andar, a
vista é magnífica. Observo ao longe os tambores oxidados, negríssimos das
torres do Gasômetro. Ao longe se ergue o Pico do Jaraguá, nariz de São Paulo,
ladeado pelo serrado da Cantareira.
Vou escrevendo aos poucos sobre cada cantinho de
São Paulo, em suas ruas becos e esquinas nos bairros da Lapa, Vila Pompéia,
Alto da Lapa, Perdizes, Sumaré, Barra Funda, Água Branca, Vila Mariana,
Cambuci, Liberdade, Brás, Mooca, Ipiranga, Vila Anastácio, Vila Hamburguesa,
Cachoeirinha, Pirituba, Freguesia do Ó, Itaberaba, Vila Brasilândia, Cruz das
Almas, Peri Alto, Morro Grande, Jaraguá, Caieiras, Perus, Franco da Rocha,
Francisco Morato, Mandaqui, Santana, Santa Teresinha, Tucuruvi, Horto
Florestal, Lauzane Paulista, Tremembé, Água Fria, Pinheiros, Santo Amaro, Capão
Redondo, Valo Velho, Alto da Boa Vista, Vila Nova Conceição, Itaim Bibi,
Ibirapuera, Moema, Vila Santa Catarina, Penha de França, Tatuapé, Cangaíba,
Vila Esperança, Butantã, Vila Sônia, Morumbi, Centro Velho e Centro Novo, em
todos esses lugares que um dia deixei marcados, em suas ruas, becos e esquinas,
com a minha presença.
Praça Antonio Prado. Rua Boa Vista. Desço a ladeira
Porto Geral. Lá em baixo Rua 25 de Março. O reino das bugigangas, das cangas e
miçangas, bagatela boa e barata, dos tecidos, dos armarinhos, sabonetes e
lavandas, sandálias e berloques, atacadistas estabelecidos entre meias paredes,
todos com as mesmas finalidades. Ali ninguém teme a concorrência. Tudo ali é
turco. São todos os turcos feitos em São Paulo. Miscigenação de raças, que
aportaram em Santos e subiram a serra em busca de oportunidades nesta cidade
gigantesca, berço de várias etnias, que aqui convivem harmoniosamente entre
si.
Hoje, mais uma vez, São Paulo está aniversariando.
460 anos. Parabéns a você, minha cidade querida. Deixo aqui nesta terra um
pedaço de minha vida. Caminhos por mim percorridos, durante vários anos de
existência, que marcaram para sempre, indelevelmente, a sua presença histórica,
sobre os últimos lampejos de algumas derradeiras facetas deste autêntico São
Paulo de Piratininga que eu aqui vivi.
E-mail: jr_grassi@yahoo.com.br
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
domingo, 12 de janeiro de 2014
PRESENTE DE DOMINGO...
OBRIGADO
Carlos
Drummond de Andrade
Aos que me dão
lugar no bonde
E que conheço não sei de onde,
E que conheço não sei de onde,
Aos que me dizem
terno adeus
Sem que lhes saiba os nomes seus,
Sem que lhes saiba os nomes seus,
Aos que me
chamam de deputado
Quando nem mesmo sou jurado,
Quando nem mesmo sou jurado,
Aos que, de
bons, se babam: mestre!
Inda se escrevo o que não preste,
Inda se escrevo o que não preste,
Aos que me
julgam primo-irmão
Do rei da fava ou do hindustão,
Do rei da fava ou do hindustão,
Aos que me
pensam milionário
Se pego aumento de salário
Se pego aumento de salário
- e aos que me
negam cumprimento
Sem o mais mínimo argumento,
Sem o mais mínimo argumento,
Aos que não
sabem que eu existo,
Até mesmo quando os assisto.
Até mesmo quando os assisto.
Aos que me trancam
sua cara
De carinho alérgica e avara,
De carinho alérgica e avara,
Aos que me
tacham de ultrabeócia
A pretensão de vir da escócia,
A pretensão de vir da escócia,
Aos que vomitam
(sic) meus poemas
Nos mais simples vendo problemas,
Nos mais simples vendo problemas,
Aos que,
sabendo-me mais pobre,
Me negariam pano ou cobre
Me negariam pano ou cobre
- eu agradeço
humildemente
Gesto assim vário e divergente,
Gesto assim vário e divergente,
Graças ao qual,
em dois minutos,
Tal como o fumo dos charutos,
Tal como o fumo dos charutos,
Já subo aos
céus, já volvo ao chão,
Pois tudo e nada nada são.
Pois tudo e nada nada são.
sábado, 11 de janeiro de 2014
PORQUE HOJE É SÁBADO...
Quatro Cantos – Olinda –
PE
Foto: Julio Cesar Vila Nova
|
COMO NÃO AMAR UMA CIDADE ONDE UM MCDONALD´S FALIU
Por Téta Barbosa
Eu olindo, tu olindas, ele olinda. Nos domingos,
nós olindamos.
Descobri que Olinda era verbo quando dei uma carona
para o músico Erasto, irmão do percussionista Naná Vasconcelos. O irmão menos
famoso do clã dos Vasconcelos escolheu a cidade alta para passar seus dias. Por
lá escreveu o guia “das Olindas” que diz assim:
“Subi Mercado da Ribeira
Desci largo de São Bento
No largo do Varadouro
Na Praça do Jacaré
Desci largo de São Bento
No largo do Varadouro
Na Praça do Jacaré
Afoxé, afoxé
Olinda mandou me chamar”
Olinda mandou me chamar”
E, enquanto cantarolava no carro durante a carona,
avisou: “pode me deixar nos Quatro Cantos mesmo, estou precisando Olindar”.
E como não amar a única cidade no mundo onde um
McDonald’s faliu?
Olinda é mesmo uma cidade estranha. E isso me faz
lembrar um causo, passado numa segunda-feira chuvosa num bar da cidade
histórica. E esse conto, caro leitor, não se passou com a amiga da prima da
minha sogra, não. Foi comigo mesmo que aconteceu, por isso posso atestar de pés
juntos, a estranheza do acontecido.
Lá estávamos nós, amigos boêmios, numa festinha
regada a jazz na sede da Pitombeira (bloco famoso nos dias de Carnaval). Entre
uma música e outra, rolou um zum zum zum, à boca miúda, de que naquela mesma
festinha estava Matt Dillon (ator famoso das bandas de Hollywood).
- Matt quem? É aquele que fez Supremacia Bourne?
- Não, é o do filme Crash, no Limite. Aquele do Oscar, pô.
Passada a confusão para diferenciar Matt Dillon de
Matt Damon (americano é tudo igual) e Brad Pitt de Tom Cruise (que no calor na
discussão, entraram na conversa sem ter nada a ver com o assunto), confirmamos
a presença do famoso no local. Sim, era ele.
A notícia, que tinha potencial para se transformar
em euforia, autógrafos e briga por fotos em qualquer lugar do mundo, parou por
aí. É de Olinda que estamos falando, afinal de contas. Ninguém, repito, ninguém
no recinto abordou o cara. Matt ficou lá; sozinho, carente.
O desprezo pelo moço chegou a tal ponto que ele
teve que tirar fotos dele mesmo no balcão do bar. Deu até pena (dó, na linguagem
do Sul, porque quem tem pena é galinha). Mas a atitude blasé dos olindenses
dizia “Pra que Matt se a gente tem Erasto?”. Que mais além se transforma em
“pra que McChicken, se aqui tem tapioca?” ou “pra que badalar, se a gente pode
Olindar”?
O fato, meus amigos, é que Olinda não é uma cidade,
é um estado de espírito. E ai dos turistas que passam rápido demais, tiram
fotos demais, compram bugingangas demais e nem têm tempo de conjugar o verbo
Olindar. Desses dá pena, de verdade.
Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive
antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às
segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um
blog - Batida Salve Todos http://batidasalvetodos.ne10.uol.com.br/
domingo, 5 de janeiro de 2014
PRESENTE DE DOMINGO...
FLORES DA PELE
Lau Siqueira
como um jardineiro que vai moldando
os espaços de beleza em uma casa antiga
vou escarpindo meus olhos sobre as vestes
do que despe uma manhã de sanidade pouca
num mundo em eterna convulsão
não sei de onde virão as palavras que
somam-se aos ventos no movimento das flores
que de tamanha volúpia e beleza disputam
presença com o hálito das formigas
somam-se aos ventos no movimento das flores
que de tamanha volúpia e beleza disputam
presença com o hálito das formigas
são renais as pedras que cobrem o estrumo
de saberes mal digeridos e que a todo instante
bocejam com os impulsos do ar que movimenta
folhas espalhadas pela calçada
de saberes mal digeridos e que a todo instante
bocejam com os impulsos do ar que movimenta
folhas espalhadas pela calçada
na espera de uma colheita que as removerá
como um entulho de uma beleza que nunca
espelha seus motivos
como um entulho de uma beleza que nunca
espelha seus motivos
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