terça-feira, 2 de junho de 2009

EU E A REDE FEMININA DE COMBATE AO CÂNCER



Fátima Vieira

Depois que voltei para morar em João Pessoa, um dia precisei ir ao ambulatório do Hospital Napoleão Laureano, referência no tratamento de câncer na Paraíba, acompanhando uma pessoa amiga e lá vi umas senhoras vestidas com jalecos cor-de-rosa, com um monograma bordado do lado esquerdo do peito, bem em cima do coração, onde se lia REDE FEMININA DE COMBATE AO CÂNCER, JOÃO PESSOA/PB, VOLUNTÁRIA, prestando assistência aos pacientes e distribuindo lanches. No lado esquerdo do ambulatório vi uns senhores com jalecos azuis, com o mesmo monograma, tocando músicas para alegrar os pacientes que esperavam para ser atendidos. Essas senhoras e esses senhores exerciam as suas funções com muito boa vontade e respeito aos pacientes. Naquele instante decidi que também queria ser um deles.

Procurei saber como poderia me engajar e fui orientada a procurar a Casa de Apoio da Rede, que fica pertinho da minha casa, para me inscrever. Fiz isso em maio e em agosto/2008 comecei a trabalhar como voluntária da Rede Feminina de Combate ao Câncer na Paraíba.

O meu trabalho, às terças-feiras pela manhã, consiste em conversar com os pacientes dos SUS, que estão no Hospital Napoleão Laureano para fazerem quimioterapia. Eles passam, no mínimo, hora e meia ligados a soros e drogas pesadas que servirão para melhorar a sua condição de saúde e à tentativa de debelar o mal que os acomete. Muitos chegam a passar seis horas, sentados ou deitados, até terminarem a sua cota do dia. Alguns vão lá por dois, três dias seguidos, conforme seja o tratamento, para cumprir o mesmo ritual.

A maioria vem do interior e os de mais longe levam de seis a oito horas de viagem para chegar ao hospital. Saem de suas cidades pela madrugada, em ambulâncias das prefeituras, carros de aluguel ou de ônibus, desconfortavelmente acomodados, às vezes sem se alimentar, para não perder a hora. Nos arredores do hospital existem casas de apoio de prefeituras, sindicatos e até da Rede Feminina (atualmente fechada para reforma), que abrigam os que necessitam ficar por mais de um dia, fornecendo dormida e alimentação (algumas só dormida) a esses sofridos e necessitados seres humanos.

Conversar com essas pessoas é muito bom. Muitas vezes acredito que sou muito mais beneficiada que eles nessa troca. As suas experiências de vida, seus problemas, alegrias e dificuldades, nos são relatados de uma maneira simples, sem reservas, sem medos e sem constrangimentos. E se eu não tiver cuidado passo o tempo todo de papo só com um paciente, quando tenho 16 para atender, num espaço de três a quatro horas.

Um deles, lá do sertão, canta e nos brinda com seus improvisos. Já me contou que fez músicas para a campanha de vários prefeitos da sua cidade. Bebia e fumava muito, mas hoje leva uma vida mais regrada por causa da doença, mas não perdeu a alegria de viver nem a vontade de alegrar as pessoas com seu canto e loas.

Às quartas-feiras, na parte da tarde, também faço um trabalho junto aos familiares dos pacientes que estão na UTI do Laureano. Minha missão é dar um conforto, uma palavra amiga aos parentes que estão vivendo a iminência de perder seu ente querido e essa tarefa não é fácil. Muitos não têm a coragem nem de chegar junto do paciente (meu pai não conseguiu ver minha mãe na UTI) e, muitas vezes, querem que as voluntárias os acompanhem até o leito, como se buscassem uma força que eles não têm naquele instante. Não é fácil para nenhum dos lados...

Saibam que nada disso que faço me torna melhor ou faz com que eu me distinga das outras pessoas, absolutamente. Optei por esse trabalho para ocupar um pouco do meu tempo com quem necessita, já que não posso mais ter um trabalho formal porque meu pai, que está com 87 anos, precisa da minha atenção e não pode ficar muito tempo sozinho. E não me arrependi da escolha que fiz. Estou feliz e tenho certeza que ainda poderei ser útil a essas pessoas por muito tempo.

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