domingo, 26 de fevereiro de 2017



HINO DO BLOCO RAPARIGAS DE CHICO

Nós somos Raparigas de Chico
Nós somos las muchachas bacanas
Pra ele eu sou mulher folhetim
A ele só digo sim aqui e em Copacabana

Nós somos Raparigas de Chico
E debochamos das Mulheres de Atenas
E todo dia não faço tudo igual
Eu sou a rosa de Chico
Era qualquer carnaval

Sempre fui traçada em miúdos pela sua canção
Com açúcar e com afeto é o poeta predileto para ter no coração
Com açúcar e com afeto é o poeta predileto para ser meu folião
Com açúcar e com afeto é o poeta predileto para ser meu folião

Letra: Ademilson José

sexta-feira, 2 de setembro de 2016




E ENTÃO, QUE QUEREIS?...

Maiakóvski

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.


Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

sábado, 1 de agosto de 2015

DIA DO CORDELISTA

Pedro Paulo Paulino

NO DIA DO CORDELISTA

(1º de agosto)

Pedro Paulo Paulino

Eu começo uma viagem
Para cumprir uma lista
De parabéns e abraços
Levados a muito artista,
Pois a folhinha anuncia
Que nesta data é o dia
Do poeta cordelista.

Começo por minha terra,
Santuário de romeiro,
E aqui dou meus parabéns
A José Natan Marreiro
Que além de poeta é
Conhecido em Canindé
Como antigo folheteiro.

Seguindo esse itinerário,
Me levanto da cadeira,
Sigo no rumo do Monte,
Indo quase na carreira,
Estugando sempre o passo,
Carregando o meu abraço
Para o Gonzaga Vieira.

Depois vou para o Mercado,
Contente e sempre veloz.
Chegando ali, abro os braços
E proclamo em alta voz:
“Senhores, fiquem atentos,
Que vim dar meus cumprimentos
Ao poeta Celso Góis”.

Agora, vou buscar outro
Que faz parte desta lista.
É cantor e é poeta
E também radialista,
Famoso compositor
Do “Pãozinho de amor”,
Um tal de Jota Batista.

E nesta cidade, ainda,
Eu parto feito um corcel
E abraço Silvio Roberto
Que já mostrou no papel
O brilho do seu escrito;
É um poeta erudito,
Mas, quando quer, faz cordel.

Eu vou à procura, agora,
Cá neste mesmo torrão,
Do poeta Arlando Marques
Com a sua inspiração.
Um dos melhores, calculo.
Assim é que o congratulo
Com forte aperto de mão.

Pra fazenda Santa Cruz
Eu marcho agora apressado.
Ao Sebastião Ferreira
Eu vou deixar meu recado.
Leva uma vida de duque,
Não quer nem ver facebook,
Por isso não foi marcado.

Da fazenda Santa Cruz
Eu sigo pra Caridade.
Para o Tonico Marreiro,
Levo encômios de verdade.
Brilhante radialista.
Condoreiro cordelista
Do bairrismo e da saudade.

Agora eu deixo o sertão
E sigo em rumo da praia,
Mas chegando em Fortaleza
Eu entro para a Caucaia
E vou bater à choupana
De Arievaldo Viana,
Poeta da mesma laia.

Então o parabenizo
Pelo seu grande papel
De poeta popular
Que faz versos a granel
E tem bastante conceito
Por tudo quanto tem feito
Em defesa do cordel.

Ainda na Capital,
Dar meu abraço é preciso
Num poeta cordelista
Que já pisou onde eu piso,
Trabalho em Canindé
La no IFCE,
Não foi, Ricardo Narciso?

Saindo da Capital
Eu parto feito um cigano
E vou parar desta feita
Em solo paraibano,
Pois reconheço o valor
Do poeta e escritor
Aderaldo Luciano.

Para o cordel, Aderaldo
É importante figura,
Conhece a fundo o Nordeste,
Seu povo e sua cultura,
E vai por todo o Brasil
Mostrando que está a mil
A nossa literatura.

Voltando pra minha terra,
Eu deixo por derradeira
Esta lembrança à memória
De um poeta de primeira,
O exímio cordelista
E não menos sonetista
Que foi Wanderley Pereira.

Parabéns, todos poetas
Do cordel tão nordestino!
Falei nos que mais conheço
E as homenagens termino.
Para cada companheiro,
O abraço verdadeiro
Do Pedro Paulo Paulino.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

FELIZ NATAL!!!

POEMA DE NATAL

Vinicius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

domingo, 26 de outubro de 2014

POEMA PARA DILMA

POEMA PARA DILMA

Pedro Tierra

De onde vem essa mulher
que bate à nossa porta 500 anos depois? 
Reconheço esse rosto estampado 
em pano e bandeiras e lhes digo:
vem da madrugada que acendemos 
no coração da noite.

De onde vem essa mulher 
que bate às portas do país dos patriarcas 
em nome dos que estavam famintos 
e agora têm pão e trabalho? 
Reconheço esse rosto e lhes digo: 
vem dos rios subterrâneos da esperança,
que fecundaram o trigo e fermentaram o pão.

De onde vem essa mulher
que apedrejam, mas não se detém, 
protegida pelas mãos aflitas dos pobres 
que invadiram os espaços de mando? 
Reconheço esse rosto e lhes digo: 
vem do lado esquerdo do peito.

Por minha boca de clamores e silêncios 
ecoe a voz da geração insubmissa 
para contar sob sol da praça 
aos que nasceram e aos que nascerão 
de onde vem essa mulher. 
Que rosto tem, que sonhos traz?

Não me falte agora a palavra que retive 
ou que iludiu a fúria dos carrascos 
durante o tempo sombrio 
que nos coube combater. 
Filha do espanto e da indignação, 
filha da liberdade e da coragem, 
recortado o rosto e o riso como centelha: 
metal e flor, madeira e memória.

No continente de esporas de prata 
e rebenque, 
o sonho dissolve a treva espessa, 
recolhe os cambaus, a brutalidade, o pelourinho, 
afasta a força que sufoca e silencia 
séculos de alcova, estupro e tirania 
e lança luz sobre o rosto dessa mulher 
que bate às portas do nosso coração.

As mãos do metalúrgico, 
as mãos da multidão inumerável 
moldaram na doçura do barro 
e no metal oculto dos sonhos 
a vontade e a têmpera 
para disputar o país.

Dilma se aparta da luz 
que esculpiu seu rosto 
ante os olhos da multidão 
para disputar o país, 
para governar o país.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

VEM CUIDAR DE MIM!



Apoiar a causa da Criança com câncer e promover a discussão em torno da urgência na aprovação de legislação que inclui na CLT licença para cuidadores.





A CHEGADA DE ARIANO SUASSUNA NO CÉU

A CHEGADA DE ARIANO SUASSUNA NO CÉU

Autores: Klévisson Viana e Bule-Bule

Nos palcos do firmamento
Jesus concebeu um plano
De montar um espetáculo
Para Deus Pai Soberano
E, ao lembrar de um dramaturgo,
Mandou buscar Ariano.

Jesus mandou-lhe um convite,
Mas Ariano não leu.
Estava noutro idioma,
Ele num canto esqueceu,
Nem sequer observou
Quem foi que lhe escreveu.

Depois de um tempo, mandou
Uma segunda missiva.
A secretária do artista
Logo a dita carta arquiva,
Dizendo: — Viagem longa
A meu mestre não cativa.

Jesus sem ter a resposta
Disse torcendo o bigode:
— Eu vejo que Suassuna
É teimoso igual a um bode.
Não pode, mas ele pensa
Que é soberano e pode!

Jesus, já perdendo a calma,
Apelou pra outro suporte.
Para cumprir a missão,
Autorizou Dona Morte:
— Vá buscar o escritor,
Mas vê se não erra o corte!

A morte veio ao País
Como turista estrangeiro,
Achando que o Brasil
Era só Rio de Janeiro.
No rastro de Suassuna,
Sobrou pra Ubaldo Ribeiro.

Porém, antes de encontrá-lo,
Sofreu um constrangimento
Passando em Copacabana,
Um malfazejo elemento
Assaltou ela levando
Sua foice e documento.

A morte ficou sem rumo
E murmurou dessa vez:
— Pra não perder a viagem
Vou vender meu picinez
Para comprar outra foice
Na loja de algum chinês.

Por um e noventa e nove
A dita foice comprou.
Passando a mão pelo aço,
Viu que ela enferrujou
E disse: — Vai essa mesma,
Pois comprar outra eu não vou!

A morte saiu bolando,
Sem direção e sem tino,
Perguntando a um e a outro
Pelo escritor nordestino,
Obteve informação,
Gratificando um menino.

Ao encontrar João Ubaldo,
Viu naufragar o seu plano,
Se lembrando da imagem
Disse: — Aqui há um engano.
Perguntou para João
Onde é que estava Ariano.

Nessa hora João Ubaldo,
Quase ficando maluco,
Tomou um susto arretado,
Quando ali tocou um cuco,
Mas, gaguejando, falou:
—Ele mora em Pernambuco!

A morte disse: — Danou-se
Dinheiro não tenho mais
Para viajar tão longe,
Mas Ariano é sagaz.
Escapou mais uma vez,
Vai você mesmo, rapaz!

Quando chegou lá no Céu
Com o escritor baiano,
Cristo lhe deu uma bronca:
— Já foi baldado o meu plano.
Pedi um da Paraíba
E você trouxe um baiano.

João Ubaldo é talentoso,
Porém não escreve tudo.
“Viva o Povo Brasileiro”
É sua obra de estudo,
Mas quero peça de humor,
Que o Céu tá muito sisudo.

Foi consultar os arquivos
Pra ressuscitar João,
Mas achou desnecessário,
Pois já era ocasião
Pra ele vir prestar contas
Ali na Santa Mansão.

Jesus olhou para a Morte
E disse assim: — Serafina,
Vejo não és mais a mesma.
Tu já foste mais malina,
Tá com pena ou tá com medo,
Responda logo, menina?!

— Jesus, eu vou lhe falar
Que preciso de dinheiro.
Ariano mora bem
No Nordeste brasileiro.
Disse o Cristo: —Tenho pressa,
Passe lá no financeiro!

— Só faço que é pra o Senhor.
Pra outro, juro não ia.
Ele que se conformasse
Com o escritor da Bahia.
Se dependesse de mim,
Ariano não morria.

A morte na internet
Comprou passagem barata.
Quase morria de susto
Naquela viagem ingrata.
De vez em quando dizia:
— Eita que viagem chata!

Uma aeromoça lhe trouxe
Duas barras de cereais.
Diz ela: — Estou de regime.
Por favor, não traga mais,
Porque se vier eu como,
Meu apetite é voraz!

Quando chegou no Recife,
Ficou ela de plantão
Na porta de Ariano
Com sua foice na mão,
Resmungando: — Qualquer hora
Ele cai no alçapão!

A morte colonizada,
Pensando em lhe agradar,
Uma faixa com uma frase
Ela mandou preparar,
Dizendo: “Welcome Ariano”,
Mas ele não quis entrar.

Vendo a tal faixa, Ariano
Ficou muito revoltado.
Começou a passar mal,
Pediu pra ser internado
E a morte foi lhe seguindo
Para ver o resultado.

Eu não sei se Ariano
Morreu de raiva ou de medo.
Que era contra estrangeirismos,
Isso nunca foi segredo.
Certo é que a morte o matou
Sem lhe tocar com um dedo.

Chegou no Céu Ariano,
Tava a porta escancarada.
São Pedro quando o avistou
Resmungando na calçada,
Correu logo pra o portão,
Louvando a sua chegada.

Um anjinho de recado
Foi chamar o Soberano,
Dizendo: - O Senhor agora
Vai concretizar seu plano.
São Pedro mandou dizer
Que aqui chegou Ariano.

Jesus saiu apressado,
Apertando o nó da manta
E disse assim: — Vou lembrar
Dessa data como santa
Que a arte de Ariano
Em toda parte ela encanta.

São Pedro lá no portão
Recebeu bem Ariano,
Que chegou meio areado,
Meio confuso e sem plano.
Ao perceber que morreu,
Se valeu do Soberano.

Com um chapelão de palha
Chegou Ascenso Ferreira,
O grande Câmara Cascudo,
Zé Pacheco e Zé Limeira.
João Firmino Cabral
Veio engrossar a fileira.

E o próprio João Ubaldo
(Que foi pra lá por engano)
Veio de braços abertos
Para abraçar Ariano.
E esse falou: - Ubaldo,
Morrer não tava em meu plano!

Logo chegou Jorge Amado
E o ator Paulo Goulart.
Veio também Chico Anysio
Que começou a contar
Uma anedota engraçada
Descontraindo o lugar.

Logo chegou Jesus Cristo,
Com seu rosto bronzeado.
Veio de braços abertos,
Suassuna emocionado
Disse assim: — Esse é o Mestre,
O resto é papo furado!

Suassuna que, na vida,
Sonhou em ser imortal,
Entrou para Academia,
Mas percebeu, afinal,
Que imortal é a vida
No plano celestial.

Jesus explicou seus planos
De fazer uma companhia
De teatro e ele era
O escritor que queria
Para escrever suas peças,
Enchendo o Céu de alegria.

Nisso Ariano responde:
— Senhor, eu me sinto honrado,
Porém escrever uma obra
É serviço demorado.
Às vezes gasto dez anos
Para obter resultado.

Nisso Jesus gargalhou
E disse: — Fique à vontade.
Tempo aqui não é problema,
Estamos na eternidade
E você pode criar
Na maior tranquilidade.

Um homem bem pequenino
Com chapeuzinho banzeiro,
Com um singelo instrumento,
Tocou um coco ligeiro
Falando da Paraíba:
Era Jackson do Pandeiro.

Logo chegou Luiz Gonzaga,
Lindu do Trio Nordestino,
E apontou Dominguinhos
Junto a José Clementino
E o grande Humberto Teixeira,
Raul e Zé Marcolino.

Depois chegou Marinês
Com Abdias de lado
E Waldick Soriano,
Com um vozeirão impostado,
Cantou “Torturas de Amor”,
Como sempre apaixonado.

Veio então Silvio Romero
Com Catulo da Paixão,
Suassuna enxugou
As lágrimas de emoção
E Catulo, com seu pinho,
Cantou “Luar do Sertão”.

Leandro Gomes de Barros
Junto a Leonardo Mota,
Chegou Juvenal Galeno,
Otacílio Patriota.
Até Rui Barbosa veio
Com título de poliglota.

Chegou Regina Dourado,
Tocada de emoção,
Juntinho de Ariano,
Veio e beijou sua mão
E disse: — Na sua peça
Quero participação.

Ariano dedicou-se
Àquele projeto novo.
Ao concluir sua peça,
Jesus deu o seu aprovo
E a peça foi encenada
Finalmente para o povo.

Na peça de Ariano
Só participa alma pura.
Ariano virou santo,
Corrigiu sua postura.
Lá no Céu ganhou o título
Padroeiro da cultura.

Os artistas que por ele
Já nutriam grande encanto
Agora estando em apuros,
Residindo em qualquer canto,
Lembra de Santo Ariano
E acende vela pro santo.

Ariano foi Quixote
Que lutou de alma pura.
Contra a arte descartável
Vestiu a sua armadura
Em qualquer dia do ano
Eu digo: viva Ariano
Padroeiro da Cultura!

FIM